sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

BRASIL, O PAÍS DO FUTURO

Tudo indica que o crescimento econômico brasileiro
se tornou estável.



Nesta semana o Ministro da Fazenda Guido Mantega anunciou que o Brasil será em 2015 a 5ª maior economia do mundo. Este ano o país alcançou a 6ª posição após ultrapassar os ingleses.

O crescimento brasileiro acompanha o movimento global de desenvolvimento econômico que alguns emergentes conseguiram alcançar, são eles Brasil, China, Índia e Rússia. 

Podemos nos perguntar por que outros emergentes, como Argentina, não integram esse grupo ou não ostentam, ao menos, resultados semelhantes O certo é que, na America do Sul, por exemplo, não foram todos os estados que experimentaram o ajuste básico das suas finanças, da sua economia e da política, levado a sucesso por aqui. Nosso crescimento ainda é insuficiente para distribuir renda na velocidade que a população pobre necessita, mas os últimos 20 anos de governo são capazes de nos separar da tragédia maior que seria não ocupar, em perfeitas condições, a posição adequada na economia global.

A nossa possibilidade real é crescer entorno de 4% ao ano durante 10 a 20 anos. Isso significa impactar de maneira sensível a vida de cada cidadão em um espaço curto de tempo. Em séculos, talvez seja a geração que mais perceba a evolução da sua renda e da sua qualidade de vida, dia-a-dia.

Em 2010 o PIB cresceu 7,5%. Maior índice em 25 anos.
Entre 2003 e 2010 a média foi de 4%.
Estima-se 4% a 5% em 2012.

O crescimento econômico durante o período FHC foi menor do que o crescimento experimentado durante o governo Lula. Isso não significa que o círculo de crescimento tenha começado somente aí. Depois da redemocratização do país, o governo FHC foi o primeiro a conseguir com sucesso superar os maiores desafios de então: a inflação e a instabilidade política. É o nascimento do cenário que encontramos hoje. As dificuldades experimentadas com a primeira marcha do Plano Real, as crises econômicas constantes e a crise enérgica pesam ainda mais contra o governo tucano.

Atingido o ponto atual, com a manutenção de uma política econômica sóbria, que não jogou fora o potencial de crescimento brasileiro sufocado durante décadas por uma inflação ilusória, o próximo alvo deve ser aprimorar os acertos e enfrentar outros fatores que sufocam o crescimento, como a infra-estrutura, a corrupção, o sistema tributário, a baixa qualificação profissional, escassez de crédito e juros altos. 

Com menos de 10% da população economicamente ativa com diploma universitário, índice inferior a China, Índia e Rússia, o país demonstra que nossas fragilidades são bem maiores que os cuidados básicos com a economia. A questão tributária também demonstra gravidade, em 2011, de cada R$ 100 ganhos o brasileiro deixou R$ 36 nas mãos do estado e o pior: são impostos arrecadados onerando basicamente a produção.

Todos esperam, alguns com mais pressa e necessidade, a manutenção da estabilidade econômica nas próximas décadas. Contudo, ansiamos ainda mais por ver cair por terra os outros monstros que impedem o país do futuro de se tornar realidade. Os projetos dos próximos governos devem se ater às questões economicas até então superadas, mas o potencial brasileiro, escondido por debaixo de véus ainda mais espessos e dificultosos, só será atingindo vencendo inimigos ainda mais difíceis.  

Ainda em 2009, The Economist já anunciava o sucesso
econômico do Brasil.

domingo, 27 de novembro de 2011

Empobrecimento cultural. Culpa de quem?

 
Em Tempos Idos, Cartola canta o auge do samba.
O gênero está cada dia menos presente no subúrbio do Rio.
 O que está acontecendo com a cultura, cinema, teatro, televisão e música, escondem cúmplices tão culpados quantos os diretamente responsáveis pela produção de baixa qualidade que assolou a arte. Esses cúmplices são os intelectuais e os artistas que produzem com qualidade e que não enfrentaram ainda a responsabilidade pelos resultados gerais da cultura.

Especificamente sobre o Brasil, a situação é crítica. Atualmente jovens de elevada formação educacional, de nível superior às vezes, desconhecem o que caracteriza a qualidade artística mínima. Como eles conseguem se tornar profissionais de alto desempenho em áreas complexas da ciência enquanto consomem uma cultura característica de uma educação fragilizada? Isso desafia a lógica. Os jovens brasileiros que atingem alto rendimento nas universidades atingiriam resultados ainda melhores se fossem capazes de identificar a arte de qualidade.
Por que excelentes alunos não identificam boa música?
A complexidade técnica não acompanha o refinamento
do espírito.

Em parte, a culpa disso é o que acontece extramuros. Após as aulas o mundo do estudante volta a ser o mesmo. A televisão continua com a mesma programação de sempre, a rádio e a internet também. As conversas dos estudantes vão girar entorno do que está comumente disposto nesses meios e a escola não pode controlar o que acontece do lado de fora. A cultura do adolescente de classe média está repleta de livros, música, cinema e até teatro. O problema é que tudo isso superficial e ruim.

A televisão, uma das maiores vilãs, acusa o público pela baixa qualidade artística da programação. Para ela a programação é ruim porque o grande público não adere a produções mais sofisticas. Em busca de se financiar, a televisão atende ao público. Afinal, posso culpar as pessoas por não exigirem uma cultura que não têm?

A restrição à liberdade ou mesmo a conduta autocrática de dizer ao outro o que fazer da sua vida, é evitada pelos intelectuais que dominam a opinião, conseqüência decorrente da sua formação liberal. Afinal, a arte moderna nasceu rompendo paradigmas e superando críticos e valores. Assim, os intelectuais e os bons artistas celebraram com a arte ruim um pacto de mútua convivência.  Com esse mantra, eles se esbaldam nos bolsões de boa cultura e se sentem irresponsáveis pelo que as pessoas fazem com a tão cara liberdade artística e de consciência.
Há poucas décadas, a música popular brasileira
liderava a venda de vinis.
        
         Ledo engano. Os bárbaros um dia gritarão tão alto que penetrarão a mais dura das bolhas. Apagada da cultura de massas, a arte de qualidade sobrevive na memória dos grandes artistas e no culto dos intelectuais. Trata-se agora de expandir esses bolsões e convidar o grande público à mesa. Objetivo este só atingível com a flexão do verbo mais antigo em material de responsabilidade social: engajar. Só existe uma política de convivência possível com a arte ruim: tolerância zero.
               
         

sábado, 8 de outubro de 2011

Ao amor perdido


CASABLANCA (Michael Curtiz, 1942)
Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
O clássico amor de cinema.

Toda a literatura da minha vida como amante são pedaços de papel que nem o melhor artista do mundo seria capaz de fazer arte. Talvez a colagem mais criativa fosse capaz de unir esses minúsculos fragmentos e fazer deles um quadro expressivo. Como os grandes retratos de miséria, meus affairs só expressariam indignidade.
Simplesmente esperei do mundo o melhor que ele podia oferecer. Esse é o grande mal das crianças mimadas. Elas continuam a acreditar que o mundo é um palco onde satisfazem os seus desejos. Ele é, contudo, o resultado do encadeamento sem lógica da vontade de inúmeros sujeitos. Com pesar, os mal acostumados descobrem que a vida representa a ação volitiva de muita gente, não apenas a sua.
 Existe um verso de Vinicius de Moraes que eu recitava antes que eles dormissem. “Dorme como dormirás um dia na minha poesia um sono sem fim”. Se esses versos os tocassem, não estaria sozinho hoje.
CINEMA PARADISO (Giuseppe Tornatore, 1988)
O filme sobre o cinema dos comuns
tinha também um grande amor.
 A minha avó cantava para eu dormir músicas as quais o seu pai cantava, provavelmente de folhas de cordel. Extremamente criativas, não podem ter outra fonte. Eu cantava para eles João Gilberto. A minha avó era uma excelente cantora. Meus amantes, porém, odiavam João Gilberto. “É amor, oh-ba-la-la, oh-ba-la-la, uma canção, quem ouvir, oh-ba-la-la, terá feliz o coração.” Hoje em dia um show de João Gilberto não sai por menos de quinhentos reais, eu cantava gratuitamente ao pé do ouvido para que dormissem em paz. Sempre os velei o sono, tal qual um bom amante deve fazer.
 Como Álvaro de Campos, eu bati no meu peito mais humanidades do que Cristo. Guardei no meu coração uma fonte permanente de respeito. O que me faz permanecer vivo, hoje, é a crença de que um dia poderei transferir a alguém todo o cuidado que estou disposto a fazer.
 Assim como uma crença inabalável, carrego todos os dias a confiança de que um dia irei entregar o meu principado à confiança da pessoa certa. É a solene trasmissão do título, a coroação.  Como o final de um grande show, espero pelo meu grand finale. O final feliz, hollywoodiano, novelesco quem sabe, em que anos de incompreesão encontrão o seu momento de espetáculo e grandeza.  
A UM PASSO DA ETERNIDADE. (Fred Zinnemann, 1953)
Burt Lancaster e Deborah Kerr.
DE OLHOS BEM FECHADOS.
(Stanley Kubrick. 1999)
Nicole Kidman e Tom Cruise

sábado, 20 de agosto de 2011

Nudez e sexualidade

Nascimento de Vênus, William-Adolphe Bouguereau.
A beleza da deusa graga do amor
tornou-se tema recorrente na arte.

A história da arte encontra-se relacionada com a história da representação da nudez humana. Desde a exibição heróica da nudez dos deuses gregos até as atuais campanhas de moda, o homem perseguiu na representação da nudez do semelhante uma forma de manifestação do erotismo.

Atualmente um recurso tornou-se difundido no entretenimento como medida de diferenciação entre a exibição tolerável e intolerável do corpo humano: o conceito de nudez parcial. Para Hollywood a nudez parcial, preservando o púbis e os órgãos sexuais, passou a ser a regra.  A moda também explora nas campanhas publicitárias a sensualidade e a nudez parcial.

 Com esse artifício a nudez aproximou-se ainda mais da cultura. Do ponto de vista da nudez,  a diferença entre os filmes pornográficos e os filmes de Hollywood passou a ser o objetivo, a finalidade, com que ela é representada. Nos primeiros ela surge como um acontecimento envolvido em uma trama maior de romance, suspense ou drama, nos segundos ela aparece diretamente retratada dentro de sua finalidade primordial de transmitir prazer. Cada dia mais longas, as cenas de nudez e sexo representadas nos filmes nos fazem questionar se essa regra diferenciadora continua sendo preservada. O quanto a indústria do cinema passou a explorar a nudez pela própria nudez?
A nova marca japonesa UNIQUO
aposta no óbvio: jeans e nudez parcial.


A nudez escancarada dos filmes pornográficos encontra a sua raiz ancestral na pornografia feita através do desenho na arte rupestre. A fotografia pornográfica e o cinema pornô, por sua vez, surgem com o advento da fotografia e do cinema. A arte rupestre, contudo, representa atos sexuais com a infantilidade e despudor de um homem que não conhecia a moral sexual que viria a trazer o grande conflito da exibição da nudez: a vergonha e a culpa. Na tradição bíblica, por exemplo, Adão e Eva passam a cobrir o corpo diante de Deus após comerem do fruto proibido e tornarem-se conhecedores do bem e do mal. Entretanto, nem a Bíblia se esvai em culpa, a vivência correta e saudável da sexualidade é o tema de um dos mais belos livros bíblicos, Cântico dos Cânticos, atribuído ao Rei Salomão.


Rei Salomão e a rainha de Sabá (1959).
Teus dois seios são como dois filhos gêmios da gazela,
que se apascentam entre os lírios.

Cântico dos Cânticos, 4:5.
O livro bíblico Cântico dos Cânticos é entendido por alguns como um código de prazeres adotado para a sexualidade a âmbito conjugal, tendo como paradigma a vivência saudável da sexualidade entre os noivos. Atualmente, o cuidado com a sexualidade a âmbito individual deve acompanhar o cuidado com a sexualidade a âmbito coletivo. Não se pode extirpar a nudez da sociedade como se tentou fazer na Idade Média ou nos séculos mais recentes de moral mais rigorosa, porque a pornografia envolve o direito humano de reconhecer a sua sexualidade, o direito de olhar para a sua própria nudez. Coletivamente, uma indústria pornográfica com limites éticos e a divulgação de idéias que nos afastem do hedonismo exacerbado são boas bandeiras.


Desde o desfile dos jovens em maio de 1968 na França, as idéias liberais que sacudiram a velha moral européia encontraram inúmeros desafios pela frente. Hoje sabemos que a vivência desregrada da sexualidade tem a mesma força de desumanizar que a vivência moralizadora da antiga moral. O medo de exibir a nudez pode ser mais saudável que o despudor em demonstrá-la. O risco da sexualidade não é apenas a culpa paralisante, mas também o despudor que transforma o homem e a mulher em puro objeto de desejo, desrespeitando seus sentimentos e sua condição de humanos. A dificuldade presente na nossa sociedade é a de saber dosar essas tensões em busca de um equilíbrio que nos encaminhe para uma vivência da sexualidade sem culpa e com respeito a dignidade de cada um. É o conhecimento do sexo como forma dígna de manifestação do afeto e propulsor de dignidade.

Pamela Anderson em sua 7ª capa de Playboy (1999).
Capa de 11 edições da revista, a atriz é símbolo
da paixão americana por nudez.
Neymar: ícone do futebol é explorado por
Capricho
, publicação voltada para o público feminino adolescente.

domingo, 24 de julho de 2011

APOTEOSE A U2

Capa do álbum All That You Can't Leave Behind.
"amor é a única bagagem que você não consegue carregar"
(trecho de música do disco)
Depois do sucesso vivido nos anos 80 que se estendeu por algum tempo nos anos 90, a banda de rock U2 voltou ao cenário musical com o álbum All That You Cant Leave Behind lançado em outubro de 2000. O sucesso do álbum se propagou rapidamente pelas rádios e conquistou não só o público casual que escuta hits de rock e pop, mas também os verdadeiros fãs da banda e os demais admiradores de música de qualidade. O álbum foi um acerto tão grande que o sucesso se estabilizou e a  nova fórmula serviu de base para  mais dez anos de acertos. Estamos em 2011 e All That You Can´t Leave Behind permanece atual e os álbuns do U2 continuam com muita qualidade.

Os erros que U2 cometeu nos anos 90 foram causados pela experimentação, contudo, isso não serve de escusa para aqueles que têm medo de experimentar. Em mais de trinta anos de formação e com doze álbuns de estúdio, o grupo mostra um grau de variação digno de quem realmente faz música tendo por base o conhecimento teórico e o talento.  De álbuns minimalistas que pareciam desprovidos de qualquer tecnologia, como The Joshua Tree (1987), a álbuns aflorados como o Zooropa (1993), U2 caminhou de influencias como Bob Dylan e Van Morrison a dance music. Tudo faz parte da história do grupo que não pode ser compreendido sem que se faça uma análise cuidadosa de sua variabilidade.

Árvore de Josué. Sempre solitária.
Deserto de Mojave, Estados Unidos.
O álbum The Joshua Tree (1987) tinha como marco visual uma “árvore de Josué”, espécie da flora do deserto de Mojave, Estados Unidos. O álbum Zooropa (1993) foi marcado visualmente por cores fortes e luminosas, identificadas com a modernidade da música eletrônica, do homem perdido na poesia e na melodia dos barulhos artificiais.  A simplicidade dos corais de igreja do belo gospel americano (música Still Haven't Found What I'm looking For) do primeiro álbum se findou com a luz artificial e o medo da perpetuidade do dia e da vigília (música Lemon) presentes no segundo álbum. Era a clássica ideação do homem contemporâneo perdido em cidades que nunca dormem. Em Lemon o backvocal futurista repete "midnight is where the day begins" (meia-noite é quando o dia começa).


Todas essas vivências em músicos talentosos como The Edge e Bono Vox, aliados de produtores geniais como Brian Enno e Daniel Lenois não poderiam terminar de outra forma que não no amadurecimento e isso gerou o sucesso de All That You Can´t Leave Behind. Agora, dois álbuns depois do marco ressuscitador, U2 precisa voltar a dar saltos sem medo de correr riscos. Só assim a banda será capaz de encontrar fórmulas ricas e modificar mais uma vez a sua identidade.

Nós não vemos a hora de U2 retornar à tentativa e erro, o rock and roll só agradece.

Capa do álbum Zooropa. Cores fortes, brilho e luminosidade.
"através da projeção de luz o homem pode ver a si mesmo de perto".
(música do álbum, referência à projeção de imagens)


domingo, 26 de junho de 2011

O 80º aniversário de Fernando Henrique Cardoso

FHC: 80 anos de pura história.

 
            Fernando Henrique Cardoso comemorou o seu 80º aniversário no dia 18 de junho. Símbolo da única oposição possível ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, FHC não recebeu nenhum telefonema, nem carta, nem manifestação pública por parte do rival. Os jornais destacaram, contudo, a carta escrita pela presidente Dilma Rousseff. Na carta elogiosa, ela atribui a FHC a estabilização da economia.
            Pela repercussão da imprensa à carta da presidente, tem-se a impressão de que o PT finalmente teve a coragem de assumir o legado deixado pelo governo de FHC ao invés de disseminar a ideologia de “herança maldita”, estratégia estapafúrdia que garantiu ao partido três vitórias seguidas nas eleições presidenciais.
            Entretanto, o singelo gesto presidencial não tem a força de redimir tantos anos propagadores dessas idéias de injustiça. Nem tampouco demonstra um sinal de mudança no comportamento petista. É na verdade um breve afago ainda fortemente marcado pela vergonha. Pela altura do orgulho petista, pode-se compreender como um gesto vitorioso para alguém dotado de um ego tão acentuado.
Depois do caos inflacionário, uma moeda capaz
de agregar valor a uma unidade.
            Independente do reconhecimento petista o importante é o reconhecimento que será dado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por intermédio da história. Mesmo com o débil esquerdismo que ainda domina as universidades brasileiras, não se cogita a hipótese de um atentado à memória dos fatos naquilo que eles evidenciam de mais notório. É que FHC deu o pontapé inicial, lançou a pedra fundamental do equilíbrio econômico e democrático. Nem as tão celebradas conquistas sociais do governo Lula seriam possíveis caso Lula tivesse que enfrentar o caos econômico-financeiro que o governo FHC enfrentou e foi capaz de afugentar. Ao invés de desafiar Lula para disputar uma nova eleição ou mesmo a um debate no seu instituto, como já fez anteriormente, Fernando Henrique Cardoso deveria desafiá-lo a suceder Itamar Franco nas condições em que ele sucedeu e ter conseguido os resultados que o seu governo conseguiu. Em suma: deveria desafiar Lula a ser FHC.
          Por ocasião do 80º aniversário, foi organizado um especial com oitenta depoimentos de personalidades da política, da economia, do jornalismo e das artes sobre FHC. Personalidades como George Soros, Bill Clinton, Fernando Gabeira, Kofi Annan, Mario Sabino, Pedro Malan, Miguel Reale Jr., Roberto Civita e Vargas Llosa deram o seu sincero depoimento sobre o ex-presidente.
Alain Touraine: o gênio francês é capaz de dar a
FHC o seu devido papel.
          Não obstante, é no depoimento do sociólogo francês Alain Touraine que me alongarei. Nas suas exatas palavras: “Fernando Henrique Cardoso, que vencera a trupe numerosa dos radicais da dependência, que levou a cabo com sucesso uma reforma monetária indispensável e garantiu a continuidade das instituições, criou verdadeiramente o novo Brasil no qual Lula fez entrar dezenas de milhões de brasileiros e onde Dilma age no sentido de diminuir as desigualdades. Desde Fernando Henrique Cardoso, o Brasil é o único país que se modernizou ao mesmo tempo política, cultural e economicamente. É nesta escala que se deve medir a obra daquele que, por seu pensamento pessoal, e dando ao seu país uma estabilidade institucional nunca antes conhecida, fez do Brasil um dos Grandes”.      
            O petismo não tem responsabilidade alguma com a história. Sua ocupação é o sustentáculo falacioso que atribui a Lula — o homem do povo — a salvação deste mesmo povo. Este é o final feliz do conto de fadas petista a que o partido e sua massa de militantes idólatras jamais conseguirão riscar de suas mentes, nem que seja a custa do assassínio dos fatos.
Lula e FHC.
O sociológo e o sapo.
            Porém, a sociedade brasileira é mais forte do que a ideologia e idolatria petistas criadas em torno de falácias sobre a história pessoal de Lula, as realizações do seu governo e o passado recente do Brasil. Essa máquina "ideologizante" — movida para perpetuar-se no poder — irá ranger e desmoronar na primeira eleição presidencial perdida. De tudo isso não restará pedra sobre pedra.
            A disposição histórica dos papéis de FHC e LULA para as conquistas recentes do Brasil não será feita neste mesmo cenário de disputa política e ideológica entre o PSDB e o PT. A história será escrita em um ambiente afastado dessas celeumas e livre de todo o partidarismo. Homens como Getúlio Vargas e Juscelino Kubstchek foram grandes o suficiente para afundar o Brasil nessa mesma disputa sentimental e de toda a paixão envolvida restam apenas linhas escritas no papel. Este será o destino de Fernando Henrique Cardoso: ser redimido pela história. 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Belo é, é isso o que o Belo faz*

Davi de Michelangelo.

            Em uma leitura ocasional aos dezesseis anos tive contato com a frase que marcaria o meu primeiro amor: “o Belo é, é isso o que o Belo faz”. A frase é de Betsey Trotwood, tia e cuidadora de David Copperfield do clássico livro de Charles Dickens. Eu mal acordara para a sexualidade e — como de usual — estava apaixonado pela beleza.

            Ao ler a fala de Mrs. Betsey, imediatamente percebi o que acontecia na minha vida. Aquele rapaz pelo qual me apaixonara fascinava em todo o sentido da expressão usada pela personagem. “Ele era, era isso o que Ele fazia”.

            A sua personalidade não passava de um adendo para a sua estética, todas as suas ações estavam contaminadas por esse multiplicador. Por algum tempo o achei semelhante a Davi de Michelangelo. Davi por mais que inspirasse ideais gregos e renascentistas de beleza, revelava em suas mãos desproporcionais um convite ao conceito de beleza mais pós-moderno possível: a individualidade. Meu rapaz era individual e classicamente belo.

            Ele não tinha mãos desproporcionais como as de Davi. Mas as suas veias saltadas, sempre aparentes, assemelhavam-se aos contornos das veias do corpo da escultura. Era claro como mármore, mas quente como o desejo que ele me inspirava. Seu corpo não tinha pelos,  assim como uma estátua nua.

Davi com a cabeça de Golias. Caravaggio.

            Toda a minha paixão pela filosofia e pelos gregos estava materializada nele. Ele preferia Esparta a Atenas. Gostava de lutar e Esparta soava mais agradável à sua índole guerreira. Já eu, era fascinado pelo que o homem ateniense aprendeu a fazer melhor do que qualquer outro: pensar.

             Aos dezesseis anos era imaturo e fantasioso o suficiente para achar que era o homem mais inteligente do mundo e ele o rapaz mais belo que Deus tinha criado. Para elevá-lo, dizia-lhe que era mais inteligente do  que eu, o que não era mentira. Ambos éramos inteligentes. Hoje, nem eu nem ele somos. Jogamos nossa inteligência no lixo junto com os nossos sonhos e a nossa amizade. Não o vejo há tanto tempo que nem sei dizer se ao menos continua belo.        

            Em uma gravação ao - vivo de Ella Fitzgerald com Louis Armstrong, Ella pergunta a Louis: “você já se apaixonou?”. Louis responde: “já me apaixonei quatro vezes”. Como o jocoso Louis, eu também voltei a me apaixonar. Contudo, nunca a beleza foi novamente o motriz exclusivo da minha paixão. Como muitos dos sentimentos que conheci naqueles anos, a beleza se perdeu na inocência do chumbo da minha minha segunda infância. Se a encontrarei um dia, não sei. Restam-me as fortes recordações da imagem da nudez do meu primeiro amado, o corpo nu do meu herói grego/judeu estampado na  minha memória como uma tatuagem.

Willian Turner: auto-retrato.


(*qualquer semelhança com pessoas fictícias ou reais é liberdade poética, nenhum texto de contéudo pessoal deste Blog deve ser lido de forma a relacionar os textos com pessoas reais da vida do autor).


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Escola Tasso da Silveira: Massacre no Realengo.

MATEUS MORAES, ESTUDANTE DA
7ª SÉRIE DO COLÉGIO TASSO DA SILVEIRA
Pela primeira vez em mais de dois anos de blog estou publicando um texto que não é de minha autoria. Trata-se do depoimento de Mateus Moraes dado à Folha de S. Paulo. Mateus é estudante da 7ª série e vivenciou o ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira no Rio de Janeiro, Bairro do Realengo. Nenhum texto escrito por mim seria capaz de se aproximar da mensagem que este texto transmite. A única coisa que podemos fazer é dividir a dor dessas famílias o máximo que pudermos. 
         

            "Já tive alguns pesadelos na vida, mas nenhum se compara com o que vi hoje. A aula de português estava começando quando ouvimos um tiro dentro da escola.
 
            Naquele momento, todos entraram em pânico. A professora deixou a sala para ver o que acontecia e não deu para entender mais nada.
            
            Só ouvíamos o barulho dos tiros cada vez mais alto. Foi uma correria. Todos gritavam e tentavam se esconder embaixo das mesas. 
            
          Logo em seguida, um rapaz de camisa verde e calça preta com um revólver em cada mão entrou na sala. Não tive muita reação. A única coisa que fiz foi levantar da minha cadeira, que fica na primeira fileira da sala. 
Adolescente presta homenagem acendando velas
no muro da escola Tasso da Silveira. O respeito que o assassino
mostrou não ter na vida humana deve ser mil vezes reafirmado por cada um de nós.
          
         Ele ficou menos de meio metro de distância da minha mesa e começou a atirar. Foi uma covardia. Ele chegava perto dos meus amigos que estavam no chão, demorava um pouco e dava tiro na cabeça, no tórax. 
        Vi pelo menos uns sete amigos morrerem. Não sei como não morri. Fiquei o tempo inteiro em pé e orando. Cada vez que ele parava de atirar para recarregar as armas, ele gritava que não ia me matar. O rapaz berrava: "Fica tranquilo, gordinho. Já disse que não vou te matar". Ele falava isso, carregava o revólver e ia pra cima dos outros. 
        
         Teve uma hora que ele deixou a sala e continuou atirando do lado de fora.
     
         Minutos depois, o barulho acabou. Vi vários colegas feridos, outros mortos, muito sangue nas paredes da sala. Não sabia o que fazer nem como estava vivo. Foi Deus que me ajudou. 
         
         Logo em seguida, um policial deu um grito. Ele berrava para os alunos que estivessem vivos deixarem a escola. Saí correndo. Só fui parar lá em casa. Deixei até o material para trás. Chorei o dia inteiro, mas estou calmo agora. 
        
         Não vou ter mais coragem de estudar nessa escola. As lembranças são muito fortes".

domingo, 20 de março de 2011

OS NOVOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (Obama no Brasil)


OBAMA na Cidade de Deus  (City of  God)
                 Uma diferença de fácil percepção em relação às visitas diplomáticas do Presidente norte-americano Barack Obama em relação às do seu predecessor George W. Bush é a maneira como a população dos países visitados recebe o novo Presidente. No Brasil o Presidente foi muito bem recebido apesar de pequenos protestos como o organizado pelo PSTU — com direito a ato “pseudo-terrorista” de um dos manifestantes que lançou um coquetel molotov no consulado norte-americano no Rio. Na Cidade de Deus, por exemplo, crianças impressionaram Obama com demonstrações de capoeira. Com seu português improvisado foi aplaudido várias vezes no discurso do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
              
                 Essa alteração da percepção da população mundial sobre os Estados Unidos será um dos maiores legados de Obama para o seu país. Os EUA sofreram décadas de fortes críticas  através de um pensamento antiamericano que de tão intenso já vinha gerando animosidade contra os próprios cidadãos do país, muitas vezes inocentes. Na América do Sul esse pensamento geralmente precipitado e infantil foi incentivado pelo que a intelligentsia cuidou de chamar de “perfeito idiota latino-americano”, expressão atribuída a Vargas Llosa vencedor do Nobel de Literatura e ex-presidente peruano. A perfeito-idiotice-latino-americana tem exponenciais em todos os países, mas é atualmente liderada pelos presidentes Hugo Chávez e Evo Morales (Venezuela e Bolívia) antigos correligionários do governo Lula.   
                
                 O mundo mudou a percepção sobre os EUA não somente porque Obama é negro e tem uma ideologia mais sintonizada com os movimentos que dominaram a produção intelectual em todos os países (movimentos ecológicos, antiglobalização, pacifistas, pró-países pobres, etc.), mas porque Obama de fato implementou uma política externa que recepcionou as críticas que o governo norte-americano sofreu. Não que Obama pratique o bem por pura convicção, mas porque os EUA perceberam que não podem mais impor ao mundo sem diálogo e cooperação — até mesmo convencimento — as suas vontades. Os EUA optam agora pelo diálogo porque o unilateralismo falhou.  
   
             Essa mudança se deu não somente devido à despolarização do poder nas relações internacionais que minou a capacidade norte-america de se impor ao mundo e o custo da política unilateral ao contribuinte (guerras caras), mas porque o país finalmente descobriu que a verdadeira liderança não é aquela que impõe sua vontade por meio da força, mas sim aquela que impõe a sua vontade por meio do convencimento. O verdadeiro líder é aquele que convence que está correto, porque liderados nessa condição são aqueles que verdadeiramente agem conforme a sua vontade. É interessante que o país que academicamente desenvolveu a mais complexa teoria contemporânea do poder tenha só agora percebido essa realidade incontestável.
               

Obama discursando para convidados
no Theatro Municipal no Rio de Janeiro

O discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, marcado por uma simpatia exemplar e muito carisma,  confirma as minhas teses. Um líder carismático é justamente aquilo que os EUA precisam nessa nova política internacional. O Presidente norte-americano idealizado por Obama é também, de certa maneira, escolhido por todos os cidadãos do mundo e festejado também por eles. Obama afirmou “quero falar diretamente ao povo brasileiro, compartilhar idéias, valores e esperanças que temos em comum”.
                 
Fernando Henrique Cardoso em entrevista concedida recentemente à Folha de São Paulo disse “não dá para ser mais aquele isolacionismo imperial, do ‘eu quero’ e acontece”, mais na frente, na mesma entrevista continuou “os EUA não têm mais como impor nada para o mundo”. Certíssimas as afirmações do ex-presidente.  Agora é saber como o Brasil irá travar suas relações com essa nova potência, cada vez mais adepta do diálogo e do convencimento.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

I have a date (eu tenho um encontro)

O que pode ser melhor do que
vinho no primeiro encontro?



     Quando um casal americano sai para se conhecer chama isso de date. “I have a date”, “eu tenho um encontro”, diz o americano todo feliz. Entretanto, no mundo das “baladas”, da “curtição”, das danceterias e boates, o encontro está desaparecendo do vocabulário e do dia-a-dia dos amantes. Nós estamos abandonando o encontro para conhecer pessoas em festas, em flertes lançados a distância através de cantadas decoradas e artificiais.
     Confesso que por algum tempo eu também entrei nessa roubada. Certa vez, cansado de inventar cantadas mirabolantes em danceterias eu decidi assumir um padrão de comportamento. Comecei usando o celular. Escrevia o texto em uma mensagem e dava para o pretendente ler, ele respondia no próprio aparelho. Depois, passei a ser mais ousado. Comecei a pegar um pedaço de papel, fazer uma bolinha e arremessar na cabeça deles. Assim eu iniciava a conversa e me vingava previamente caso levasse um fora. Certa vez joguei a bolinha na cabeça do rapaz certo e o namorei por três meses.
     Agora estou fora dessa. Não tenho mais tempo e nem idade para suportar as horas de badalação e bebidas. A realidade da vida me obrigou a ser mais responsável e promovi mudanças. A primeira delas foi a reabilitação do “encontro”. Agora eu convido os pretendentes parar sair e comer alguma coisa ao invés de me intoxicar junto com eles de música eletrônica ruim.
John Travolta e Uma Thurman
no clássico Pulp Fiction  (QuentinTarantino, 1994).
O "silêncio que incomoda".
     Mia Wallace e Vicente Vega (Uma Thurman e John Travolta) no clássico do cinema Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994), marcam um encontro que por pouco não termina em tragédia (a overdose de Mia). É uma prova irrefutável de que o encontro tem seus riscos. Contudo, no amor sempre jogamos dados como uma prerrogativa para participarmos do jogo. Outro fato interessante desse encontro é a referência que Mia Wallace (Uma Thurmam) faz ao “silêncio que incomoda”, aqueles clássicos momentos em que o casal fica em silêncio um olhando para o outro em procura de assunto para a conversa.
     Entretanto, o maior problema dos encontros ainda é ter que decidir se você irá ou não transar no primeiro encontro. É uma dúvida difícil. Desculpas esfarrapadas como chamar você para tomar cervejas em casa, dar uma subidinha para conhecer o apartamento, ir para um lugar mais confortável ou mais reservado, serão certamente as propostas feitas para forçar você a se entregar e ceder.
"Eu transo no primeiro encontro"
     Não existe uma regra geral para todos os casos, certamente encontraremos casais que transaram no primeiro encontro e agora vivem maritalmente enquanto outros não passaram da primeira vez. 
     O encontro é uma aventura, um pequeno ensaio da vida  a dois, é perfeitamente possível testar uma pessoa em um encontro, em uma balada isso já se apresenta como uma tarefa mais difícil. A revitalização do encontro se impera como forma de fugirmos de alguns defeitos inerentes aos nossos hábitos modernos que prejudicam nossa vida afetiva.
     Finalizando, se hoje for sábado e você estiver próximo ao telefone, não tenha dúvida: marque um encontro. Chame aquela pessoa especial para jantar fora ou beber alguma coisa. Quem sabe vocês não acabem, após o encontro, saindo para dançar em uma casa noturna em um clássico exemplo da união entre o velho e o novo, entre o útil e o agradável. Seria começar  a noite em Pulp Fiction e terminar em Embalos de um Sábado a Noite (Saturday Night Fever, John Badham,
1977).
     Boa sorte e até o nosso próximo encontro!


John Travolta e Karen Lynn Gorney.
Embalos de um Sábado à Noite
(Saturday Night Fever, John Badham, 1977)














quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Notas sobre a beleza (História da Beleza, Humberto Eco)

O Beijo, Francesco Hayez
                “Quem é belo é caro. Quem não é belo não é caro” cantaram as musas nas núpcias de Cadmo e Harmonia, em Tebas, segundo narração de Hesíodo. Será que a beleza é tão cara assim?
                Em sua obra História da Beleza o pensador italiano Umberto Eco trabalha a variação e evolução da beleza no Ocidente a iniciar pela Grécia Antiga até os dias atuais. Começamos com estátuas gregas e terminamos com atores e atrizes de Hollywood. Se a beleza em Hollywood dos anos 40 para os dias de hoje se modificou tão severamente, o que ocorreu nesses milhares de anos de história?
                De acordo com a obra de Umberto Eco, ao ser interrogado sobre qual critério utilizar para avaliar a beleza, o Oráculo de Delfos respondeu que “o mais justo é o mais belo”. Em toda a nossa história perseguimos o fenômeno da beleza e tentamos descobrir normas que regulem esse universo. Contudo, não existem tais normas universais, a beleza se manifesta de variadas formas e o que nos resta é compreender suas manifestações conforme o próprio homem evolui as engrenagens da cultura. A beleza vai mudando e nós vamos mudando junto com ela.
Romeu e Julieta, Sir. Frank Dicksee
                Sou um admirador da beleza. Admiro-a com cuidado, pacatamente, à distância, para que não me fure os espinhos da rosa. Nem todas as belezas do mundo estão expostas como esculturas e pinturas em museus, ou são exibíveis como filmes em salas de cinema. Algumas belezas, como as das pessoas belas, estão por aí se movimentando pelo mundo. E possuem sonhos, ambições, pensam, vivem, desejam. Essas pessoas que nos dignificamos a chamar de belas podem não ser justas, como exige o Oráculo, e muitas vezes não são. Algumas paixões são construídas exclusivamente ao redor dessa admiração cega de beleza. Essas paixões tendem ao desequilíbrio e ao sofrimento do que ama e admira cegamente a beleza do outro.
                A beleza  não está presente apenas em Romeu e Julieta, ela rodeia todo casal de enamorados simplesmente porque é impossível amar aquilo que não consideramos belo. Para se destacar, como disse o Oráculo de Delfos, a beleza precisa se aproximar do justo e não é à toa que a nossa cultura normalmente relaciona a beleza com outro sentimentos nobres, como a justiça, bondade e heroísmo.
                Comecei a postagem falando do valor que a beleza pode ter. De fato, ela pode ter valor incomensurável. Sem a beleza a vida seria sem graça, o que falar de a Garota de Ipanema, música composta a uma jovem anônima que passava na rua e que, conta a tradição, Tom Jobim e Vinicius de Moraes seguiram por metros em Ipanema? A beleza (não apenas a física e humana) é o motriz das artes e inspira produções do período clássico ao caos da arte pós-moderna. O que seria da poesia, da música e do amor, sem a beleza?     
                Inescapável como ela é, a beleza estará presente na vida de todos nós. Haverá os que venderão a alma por um minuto de sua presença, sem jamais a possuir, e haverá os que saberão estar próximos a ela todos os minutos da vida sem jamais se deixar ferir. Basta escolher de qual lado você estará.                   

Brigitte Bardot, ícone do cinema.
James Dean, ícone do cinema.

sábado, 15 de janeiro de 2011

PROCURANDO A ESPADA DO MEU SALVADOR

Livro em Branco

                O texto deveria ser sobre política, mas não há nada de importante a acrescentar. Dilma segue com os seus primeiros cem dias de governo nomeando e mantendo ministros que indicam uma continuidade das diretrizes políticas do governo Lula. Espera-se que ela enfrente a reforma tributária e da previdência. A mais interessante mudança foi na chefia do Banco Central, com todo respeito ao genial Henrique Meirelles.
                
Minhas leituras estão atrasadas, o estudo de Direito também. Os sentimentos, contudo, não atrasam. O coração nunca para de bater. Ultimamente ele tem andando bem tranqüilo e a passos estáveis e equilibrados, com a velocidade de quem não está amando ou de quem vive um amor delicado e monástico por si mesmo.
                Ele irá acelerar sem dúvida nenhuma. Essa pausa não é uma pausa melancólica, é um momento de aprendizado, estou adquirindo maturidade e irei usá-la com eficiência quando o momento chegar. O meu coração dança calmamente ao som da bossa-nova que ainda inspira meus dias, também dá solavancos contidos ao som de bons sambas. Ah, e também suspira com os saxofones do jazz


The world has gone mad today
And good's bad today,
And black's white today,
And day's night today,
And that gent today
You gave a cent today
Once had several chateaux.


(ANYTHING GOES, COLE PORTER)
         
                Estou amando a música? Não, estou cantando ao amor. Não a nenhum amor que eu tenha tido, mas aos amores que virão. Cantando ao rosto ainda sem identidade dessa pessoa que me fita ao longe, o rosto do meu futuro amor. Como ele será?
              Não rezo para ele, contudo, canto para ele todos os dias, Deus há de entender isso como uma prece. Como as mocinhas castas de antigamente sonhavam com seus futuros esposos, único homem de suas vidas, eu sonho com ele. Sem identidade, sim, ainda. Será alto, baixo, branco, negro, como será a cor dos seus olhos?
             Em um texto antigo, eu falo do meu messias, do meu salvador. Existem sinais que percorreram o tempo e que me permitirão identificá-lo quando a hora inevitável chegar. Mas nenhum desses sinais me permitiriam reconhecê-lo na multidão. O messias é esquivo e etéreo, como uma fumaça de charuto percorrendo a escuridão da noite. Sua presença se fará notar, será visível e palatável, apenas não sei como.
             

Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes, nos ensina a não ir atrás de cultivar tristezas de amores passados. É justamente isso que estou fazendo, virando a página do passado e observando as folhas em branco que serão escritas. Não faltará nessas páginas nenhum elemento dos dramas gregos e dos melhores romances do período do romantismo, sem perder toda a brasilidade dos pandeiros e sem perder o charme do samba.
             Será uma bela história de amor e como será!

O poetinha da Bossa: Vinicius de Moraes