sábado, 8 de outubro de 2011

Ao amor perdido


CASABLANCA (Michael Curtiz, 1942)
Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
O clássico amor de cinema.

Toda a literatura da minha vida como amante são pedaços de papel que nem o melhor artista do mundo seria capaz de fazer arte. Talvez a colagem mais criativa fosse capaz de unir esses minúsculos fragmentos e fazer deles um quadro expressivo. Como os grandes retratos de miséria, meus affairs só expressariam indignidade.
Simplesmente esperei do mundo o melhor que ele podia oferecer. Esse é o grande mal das crianças mimadas. Elas continuam a acreditar que o mundo é um palco onde satisfazem os seus desejos. Ele é, contudo, o resultado do encadeamento sem lógica da vontade de inúmeros sujeitos. Com pesar, os mal acostumados descobrem que a vida representa a ação volitiva de muita gente, não apenas a sua.
 Existe um verso de Vinicius de Moraes que eu recitava antes que eles dormissem. “Dorme como dormirás um dia na minha poesia um sono sem fim”. Se esses versos os tocassem, não estaria sozinho hoje.
CINEMA PARADISO (Giuseppe Tornatore, 1988)
O filme sobre o cinema dos comuns
tinha também um grande amor.
 A minha avó cantava para eu dormir músicas as quais o seu pai cantava, provavelmente de folhas de cordel. Extremamente criativas, não podem ter outra fonte. Eu cantava para eles João Gilberto. A minha avó era uma excelente cantora. Meus amantes, porém, odiavam João Gilberto. “É amor, oh-ba-la-la, oh-ba-la-la, uma canção, quem ouvir, oh-ba-la-la, terá feliz o coração.” Hoje em dia um show de João Gilberto não sai por menos de quinhentos reais, eu cantava gratuitamente ao pé do ouvido para que dormissem em paz. Sempre os velei o sono, tal qual um bom amante deve fazer.
 Como Álvaro de Campos, eu bati no meu peito mais humanidades do que Cristo. Guardei no meu coração uma fonte permanente de respeito. O que me faz permanecer vivo, hoje, é a crença de que um dia poderei transferir a alguém todo o cuidado que estou disposto a fazer.
 Assim como uma crença inabalável, carrego todos os dias a confiança de que um dia irei entregar o meu principado à confiança da pessoa certa. É a solene trasmissão do título, a coroação.  Como o final de um grande show, espero pelo meu grand finale. O final feliz, hollywoodiano, novelesco quem sabe, em que anos de incompreesão encontrão o seu momento de espetáculo e grandeza.  
A UM PASSO DA ETERNIDADE. (Fred Zinnemann, 1953)
Burt Lancaster e Deborah Kerr.
DE OLHOS BEM FECHADOS.
(Stanley Kubrick. 1999)
Nicole Kidman e Tom Cruise

Um comentário:

Natasha disse...

"O tempo de amor é tempo de dor, o tempo de paz não faz nem desfaz" deve ser uma das minhas frases favoritas. O amor é isso mesmo, fazendo e desfazendo, deixando a gente feliz-triste, feliz-contente, triste-triste. O cinema e a literatura conseguem captar bem o amor, mas nada como um amor de verdade, né, daqueles de pegar e morder! rs Beijo!