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| CASABLANCA (Michael Curtiz, 1942) Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. O clássico amor de cinema. |
Toda a literatura da minha vida como amante são pedaços
de papel que nem o melhor artista do mundo seria capaz de fazer arte. Talvez a
colagem mais criativa fosse capaz de unir esses minúsculos fragmentos e fazer
deles um quadro expressivo. Como os grandes retratos de miséria, meus affairs só expressariam indignidade.
Simplesmente esperei
do mundo o melhor que ele podia oferecer. Esse é o grande mal das crianças
mimadas. Elas continuam a acreditar que o mundo é um palco onde satisfazem os seus desejos. Ele é, contudo, o resultado do encadeamento sem
lógica da vontade de inúmeros sujeitos. Com pesar, os mal acostumados descobrem
que a vida representa a ação volitiva de muita gente, não apenas a sua.
Existe um verso de Vinicius de Moraes que eu recitava antes que eles
dormissem. “Dorme como dormirás um dia na
minha poesia um sono sem fim”. Se esses versos os tocassem, não estaria
sozinho hoje.
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| CINEMA PARADISO (Giuseppe Tornatore, 1988) O filme sobre o cinema dos comuns tinha também um grande amor. |
A minha avó cantava para eu dormir músicas as quais o seu pai
cantava, provavelmente de folhas de cordel. Extremamente criativas, não podem
ter outra fonte. Eu cantava para eles João Gilberto. A minha avó era uma
excelente cantora. Meus amantes, porém, odiavam João Gilberto. “É amor, oh-ba-la-la, oh-ba-la-la, uma
canção, quem ouvir, oh-ba-la-la, terá feliz o coração.” Hoje em dia um show
de João Gilberto não sai por menos de quinhentos reais, eu cantava
gratuitamente ao pé do ouvido para que dormissem em paz.
Sempre os velei o sono, tal qual um bom amante deve fazer.
Como Álvaro de Campos,
eu bati no meu peito mais humanidades do que Cristo. Guardei no meu coração uma
fonte permanente de respeito. O que me faz permanecer vivo, hoje, é a
crença de que um dia poderei transferir a alguém todo o cuidado que estou
disposto a fazer.
Assim como uma crença
inabalável, carrego todos os dias a confiança de que um dia irei entregar o meu
principado à confiança da pessoa certa. É a solene trasmissão do título, a coroação. Como
o final de um grande show, espero
pelo meu grand finale. O final feliz,
hollywoodiano, novelesco quem sabe, em que anos de incompreesão encontrão o seu momento de espetáculo e grandeza.
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| A UM PASSO DA ETERNIDADE. (Fred Zinnemann, 1953) Burt Lancaster e Deborah Kerr. |
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| DE OLHOS BEM FECHADOS. (Stanley Kubrick. 1999) Nicole Kidman e Tom Cruise |





Um comentário:
"O tempo de amor é tempo de dor, o tempo de paz não faz nem desfaz" deve ser uma das minhas frases favoritas. O amor é isso mesmo, fazendo e desfazendo, deixando a gente feliz-triste, feliz-contente, triste-triste. O cinema e a literatura conseguem captar bem o amor, mas nada como um amor de verdade, né, daqueles de pegar e morder! rs Beijo!
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