sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O PT e a Imprensa


           A última aventura petista foi contra a imprensa livre. De José Dirceu a Lula, vários petistas foram demonstrando sua inclinação autoritária. Estão inconformados com a imprensa porque ela não está ocupada em participar do “oba-oba” que o partido pretende fazer valer nessas eleições. Queriam uma imprensa que louvasse os supostos acertos do governo, assim como eles fazem na propaganda eleitoral e na propaganda governamental – nesta última de maneira mais sutil. Como a imprensa não concorda que o governo foi o maior acontecimento da história desse país, só pode estar alucinada. É assim que o problema é visto do ponto de vista do PT.

Houve quem acusasse a imprensa de “golpista”. Estaria a imprensa movimentando interesses partidários quando na verdade ela apenas cumpre com o seu papel em uma democracia: o de fiscalizar o governo. Quanto ao escândalo Erenice Guerra, talvez a imprensa tenha prestado um favor a Dilma Rousseff. Quem imagina qual função a protegida da candidata petista viria a ocupar em um possível governo? Quem sabe tenha sido melhor a bomba explodir agora no que nas mãos de Dilma.
       
            Na Bahia, José Dirceu acreditava estar longe dos reportares em uma palestra para sindicalistas. Era Dirceu em mais um dia de suas vastas ocupações partidárias pós-escândalo do mensalão. O PT não baniu nenhum dos envolvidos no caso (o companheirismo é algo sem fim no PT), e não seria diferente com o companheiro José Dirceu, antigo segundo homem do governo Lula. Então, falando para essa platéia e para as futuras prateias que o petismo ainda lhe proporcionará, Dirceu explanou suas opiniões sobre a imprensa no Brasil. Existiria um “excesso de liberdade” e concluiu "o problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa.". As falas de Dirceu falam por si só. Derrubado por um escândalo que nasceu no Congresso e que a imprensa só fez divulgar, ele agora declara suas mágoas.

Porém, o que pensa Dirceu é mais do que o que pensa Dirceu. É o que pensa o PT e é o que pensa o presidente Lula. No background, apagado, mas não morto, Dirceu ainda participa de atividades partidárias e freqüenta o governo na intimidade da amizade que possui com os seus principais protagonistas. Se ele pensa assim é porque a nata do petismo pensa igual e se o presidente não está com eles é capaz que José Dirceu o convença do contrário.

Mas assustador que Dirceu, contudo, foi o Sindicato de Jornalistas de São Paulo ter organizado uma manifestação contra o “golpismo midiático”. A manifestação atraiu a presença de Luiza Erundina (deputada federal PSB/SP). Foi uma panfletagem organizada pelo PT, CUT, MST e UNE. Isso mostra o quanto alguns movimentos sociais e sindicatos ainda mantêm afinidade com o governo. O objetivo do encontro era “redigir um documento, assinado por jornalistas, blogueiros e entidades da sociedade civil, que ajude a esclarecer o que está em jogo nas eleições brasileiras”. O movimento chegou a sugerir uma auditoria nas contas da Editora Abril, Grupo Folha, Estadão e Organizações Globo. E disse “sugerimos que todos assinemos publicações comprometidas com a democracia e os movimentos sociais, como a Carta Capital, Revista Fórum, Caros Amigos, Retrato do Brasil, Revista do Brasil, jornal Brasil de Fato, jornal Hora do Povo”.

O grupo organizado em torno do Sindicato de Jornalistas de São Paulo deu nome aos bois. O que eles chamam de “grande mídia” é certamente a Editora Abril, o Grupo Folha, Estadão e Organizações Globo, mesmo nomes em que foi sugerida a auditoria nas contas. O movimento tem o direito de manifestar sua opinião e de se organizar para redigir documentos, levantar assinaturas e todo o resto. Eles podem até demonstrar apreço por um ou outro jornal e revista, conforme a linha editorial dos mesmos. O que não podem é querer impedir qualquer jornal de manifestar livremente a sua opinião.

No Clube Militar do Rio de Janeiro jornalistas participaram de uma discussão sobre os riscos de censura à imprensa. O tema do encontro era “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão." É isso mesmo o que o senhor ou senhora leu, são jornalistas ameaçando a imprensa  em São Paulo e militares ocupados de defendê-la no Rio de Janeiro.

PS: O que é mais perigoso, uma imprensa que critica o governo ou uma imprensa submissa aos interesses dele?

Nenhum comentário: