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| Rain Storm, Union Square. Childe Hassam |
“Sinto-me como se tivesse sido expelido de um liquidificador, estraçalhado e batido por todos os lados”, foi o que disse a um amigo no telefone recentemente. Os meus sentimentos viraram uma mistura de raiva, dor, frustração e revolta. Não me lembro de quando me vi pautado por sentimentos tão pouco nobres. “Estou andando com dificuldade, por hora preciso da ajuda de uma bengala, não sei quando poderei atirá-la de lado e caminhar por minhas próprias pernas novamente. Estou dormindo com o auxílio de medicação”, falei ao mesmo amigo instantes depois. Passaria todos esses dias embriagado, anestesiado até essa dor passar, mas alguns remédios que tomo não me permitem esses abusos sem pôr em risco a minha saúde.
Os piores demônios que viviam comigo e que acreditava estarem exorcizados, voltaram à minha companhia, voltaram a ocupar a cabeceira da minha cama. Eles olham para mim com suas faces disformes o tempo inteiro e já não consigo fitar essas aberrações. Não estou em condições de conviver com esses monstros e não tenho crença nenhuma em Deus para rogar em pedido de ajuda.
Uma constante fúria chuvosa despenca sobre mim. Já verti muitas lágrimas junto a essa chuva morna. A saída somática para minhas dores não são lágrimas, a mais singela representação da dor psíquica, mas sim o vômito. “Como a minha tia fizera quando a sua filha morreu, no velório, ela vomitava para todos os lados”. Sinto inveja de não poder somatizar minhas dores com tanta facilidade. Quem sabe a saída para todo sofrimento humano não seja esse, o vômito? Acho que a minha tia tinha muito que dizer a humanidade com seus reboliços estomacais.
Que um romance que começou e acabou com a mesma velocidade tenha provocado em mim sensações tão fortes é um sinal do quanto eu preciso amadurecer. O pior mal do idealizador é que quanto mais alto é o sonho, maior é a queda. A realidade não é tão bela quanto aquilo que imaginamos, idealizamos, sonhamos e construímos, diuturnamente quando estamos apaixonados.
Todas essas angustias acontem porque eu o amo? Disso não tenho certeza. Refazendo meus cálculos, eu descobri que só me apaixonei uma única vez na vida. Esses eventos me fizeram descobrir que o que eu pensava ser o meu segundo amor é na verdade uma invenção causada pela necessidade. Na soma antiga, o D. seria o meu terceiro amor. Contudo, quando releio o meu segundo amor, descubro defeitos gritantes que o jogam na vala comum dos espíritos paupérrimos. O D. é completamente diferente, sua personalidade é uma construção complexa de sentimentos dignos de respeito, ao contrário do outro, ele está no lugar especial dos espíritos luxuosos. Mesmo assim não sei dizer ao certo se o amava ou se ainda o amo. Posso descobrir no futuro que em relação ao meu primeiro amor tudo isso não passou de carinho ou outro afeto menor e menos significativo.
Dolorosamente, vou caminhando esse labirinto de cercas vivas porque sou obrigado a percorrê-lo em busca de uma saída. Se eu não tenho sorte no amor, serei um jogador falido e compulsivo. Mas sempre rolarei meus dados. Sempre estarei pronto e a espera da hora da sorte, chegue ela um dia ou não.









