
Abandonei a literatura universal por quase dois anos. Agora voltei a ela e decidi novamente cumprir a meta de sempre possuir um romance em mãos e ler tantos quantos forem possíveis entre uma e outra atividade das faculdades. A maior dificuldade será financeira, não sei como comprarei tantos livros. Por isso, não poderei cometer o capricho de os escolher a dedo -- lerei os que a sorte lançar para mim.
Abusarei das bibliotecas das universidades, dos colegas, dos livros eletrônicos, recorrendo raramente às livrarias. Que seja, como disse Júlio César antes de se dirigir à Roma: "alea jacta est". A sorte está lançada!
Abusarei das bibliotecas das universidades, dos colegas, dos livros eletrônicos, recorrendo raramente às livrarias. Que seja, como disse Júlio César antes de se dirigir à Roma: "alea jacta est". A sorte está lançada!
As anotações:
O primeiro que caiu nas minhas mãos é proveniente de um furto no qual fui partícipe, instigando um amigo a roubar o acervo de sua escola particular de nível médio. Trata-se de A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne.
É uma vergonha, confesso, que este livro tenha caído em minhas mãos somente agora. É dessas leituras básicas que devem ser feitas aos quinze anos.
Vários livros de Júlio Verne foram adaptados para o cinema, desde o começo da sétima arte até recentemente. Muitos de seus romances possuem elementos que são característicos do cinema, como a aventura e a ação. Perseguições, combates à mão e arma de fogo, infiltrações, e outros eventos que requerem descrições voltadas para o desenrolar físico da ação, são presentes em suas obras, e em muitos autores que aparerentemente o influenciaram, como Alexandre Dumas (pai). A literatura americana é mesmo um filho direto da literatura inglesa, quem sabe essa linha de descendencia não chegou até o cinema americano?
Phileas Fogg (protagonista do livro) é muito bem caracterizado por este diálogo, que se passa na Índia inglesa, no meio de uma floresta, quando seu grupo decide resgatar uma moça que seria sacrificada em um ritual de adoradores da deusa Kali:
-Ora, o senhor tem um bom coração! -- disse sir Francis Cromarty
-Às vezes -- respondeu simplesmente Phileas Fogg. -- Quando tenho tempo.
Fogg é um autômato. Um espírito das "ciências exatas", positivista talvez. Cumpre horários regularíssimos, inspirados nas badaladas do imenso relógio da sua sala. É também um misterioso (parte de seu mistério a trama nem soluciona), não se sabe a origem da sua fortuna, como conhece tantos detalhes sobre geografia e navegação, nem tão pouco quais sejam seus familiares. É anti-social. Frequenta um único club londrino, o Reform Club, onde lê os jornais diários, almoça e joga uíste até próximo da meia-noite. Por mais discreto e distinto que seja, é suspeito de ser autor de um furto milionário no banco nacional.
É no Reform Club que se envolve com a aposta, central para a trama de Verne: dar a volta ao mundo em 80 dias, sem um minuto a mais e nem um minuto a menos. O londrino pretende executar o intento fazendo uso dos meios de transponte da época: navios e linhas férreas. Termina por utilizar também infinitos meios alternativos como paquetes, iates, embarcações comerciais, trenós e elefante.
Contra o inusitado inglês contam fatores como: concordância milagrosa das horas de partida e chegada, a possibilidade de quebras das máquinas, de tempos ruins, de neves, descarrilhamentos ou imprevistos de qualquer ordem que significariam atrasos capazes de por tudo a perder. Além disso, procurado pela polícia em todos os continentes, o inglês terá que despistar um polícial em seu encalço, o agente da polícia metropolitana "inspector Fix".
Logo no início do livro somos apresentados a Passepartout (traduzindo: pau-para-toda-obra) que será seu criado e ajudante toda a viagem. Antigo malabarista de circo, Passepartout defenderá seu patrão com o uso de seus dotes físicos; é também um desastrado, será parte do fator sorte a contar contra Phileas Fogg em toda a viagem.
Logo percebemos que estamos em uma corrida contra o tempo e que o enredo será curto, ágil, e que as expectativas do leitor voltam-se quase completamente para a incerteza da realização ou não do feito por Phileas Fogg e das peripécias que se envolve no caminho. Os personagens são divertidos, inusitados e os dialógos bens construídos; contudo é bem diferente de romances mais calcados na trama e nas personagens. Verne não é estudioso do psiquismo humano, suas atenções voltam-se para o imaginário e a aventura. Os cenários são importantes, mas o livro não possui descrições alongadas dos mesmos, com grandes detalhes geográficos. Elas existem, mas não são o centro do romance, como se pode acreditar pelo título do livro. Elas cumprem apenas o seu papel. Colônias e ex-colônias britânicas serão cortadas rapidamente, onde se passarão os principais eventos do romance. É um mundo interligado pela indrustrialização, colonialismo e pelas máquinas à vapor.
Indispensável para qualquer pessoa que pretenda conhecer ao menos as bases da literatura universal, Verne e a Volta ao Mundo é uma leitura mais que prazerosa, confiram.
É uma vergonha, confesso, que este livro tenha caído em minhas mãos somente agora. É dessas leituras básicas que devem ser feitas aos quinze anos.
Vários livros de Júlio Verne foram adaptados para o cinema, desde o começo da sétima arte até recentemente. Muitos de seus romances possuem elementos que são característicos do cinema, como a aventura e a ação. Perseguições, combates à mão e arma de fogo, infiltrações, e outros eventos que requerem descrições voltadas para o desenrolar físico da ação, são presentes em suas obras, e em muitos autores que aparerentemente o influenciaram, como Alexandre Dumas (pai). A literatura americana é mesmo um filho direto da literatura inglesa, quem sabe essa linha de descendencia não chegou até o cinema americano?
Phileas Fogg (protagonista do livro) é muito bem caracterizado por este diálogo, que se passa na Índia inglesa, no meio de uma floresta, quando seu grupo decide resgatar uma moça que seria sacrificada em um ritual de adoradores da deusa Kali:
-Ora, o senhor tem um bom coração! -- disse sir Francis Cromarty
-Às vezes -- respondeu simplesmente Phileas Fogg. -- Quando tenho tempo.
Fogg é um autômato. Um espírito das "ciências exatas", positivista talvez. Cumpre horários regularíssimos, inspirados nas badaladas do imenso relógio da sua sala. É também um misterioso (parte de seu mistério a trama nem soluciona), não se sabe a origem da sua fortuna, como conhece tantos detalhes sobre geografia e navegação, nem tão pouco quais sejam seus familiares. É anti-social. Frequenta um único club londrino, o Reform Club, onde lê os jornais diários, almoça e joga uíste até próximo da meia-noite. Por mais discreto e distinto que seja, é suspeito de ser autor de um furto milionário no banco nacional.
É no Reform Club que se envolve com a aposta, central para a trama de Verne: dar a volta ao mundo em 80 dias, sem um minuto a mais e nem um minuto a menos. O londrino pretende executar o intento fazendo uso dos meios de transponte da época: navios e linhas férreas. Termina por utilizar também infinitos meios alternativos como paquetes, iates, embarcações comerciais, trenós e elefante.
Contra o inusitado inglês contam fatores como: concordância milagrosa das horas de partida e chegada, a possibilidade de quebras das máquinas, de tempos ruins, de neves, descarrilhamentos ou imprevistos de qualquer ordem que significariam atrasos capazes de por tudo a perder. Além disso, procurado pela polícia em todos os continentes, o inglês terá que despistar um polícial em seu encalço, o agente da polícia metropolitana "inspector Fix".
Logo no início do livro somos apresentados a Passepartout (traduzindo: pau-para-toda-obra) que será seu criado e ajudante toda a viagem. Antigo malabarista de circo, Passepartout defenderá seu patrão com o uso de seus dotes físicos; é também um desastrado, será parte do fator sorte a contar contra Phileas Fogg em toda a viagem.
Logo percebemos que estamos em uma corrida contra o tempo e que o enredo será curto, ágil, e que as expectativas do leitor voltam-se quase completamente para a incerteza da realização ou não do feito por Phileas Fogg e das peripécias que se envolve no caminho. Os personagens são divertidos, inusitados e os dialógos bens construídos; contudo é bem diferente de romances mais calcados na trama e nas personagens. Verne não é estudioso do psiquismo humano, suas atenções voltam-se para o imaginário e a aventura. Os cenários são importantes, mas o livro não possui descrições alongadas dos mesmos, com grandes detalhes geográficos. Elas existem, mas não são o centro do romance, como se pode acreditar pelo título do livro. Elas cumprem apenas o seu papel. Colônias e ex-colônias britânicas serão cortadas rapidamente, onde se passarão os principais eventos do romance. É um mundo interligado pela indrustrialização, colonialismo e pelas máquinas à vapor.
Indispensável para qualquer pessoa que pretenda conhecer ao menos as bases da literatura universal, Verne e a Volta ao Mundo é uma leitura mais que prazerosa, confiram.




