segunda-feira, 18 de junho de 2012

ANESTESIA POLÍTICA


Dilma no palanque.
Foi preciso aprender fazendo.
Quando o país elegeu para presidente uma mulher que nunca tinha disputado uma eleição, nascida e desenvolvida politicamente nos bastidores, com dificuldade de se expressar, uma mulher a que um palanque era tudo, menos o seu lugar natural, a minha justificativa foi atribuir a vitória ao sucesso político do presidente Lula e ao insucesso do PSDB em insistir na candidatura de Serra (fraco).

Contudo, depois dos primeiros voos do governo, quando surgiram os índices altíssimos de aprovação, as minhas dúvidas cresceram. O que fez após a queda de inúmeros ministros envolvidos com corrupção, com o crescimento econômico estagnado e inferior aos índices do governo anterior, a presidente manter nas pesquisas resultados de aprovação característicos de grandes governos?

73% de aprovação. Isso não é qualquer coisa. Isso é um índice alto de popularidade e nas democracias atuais um índice difícil de alcançar. Então. O que faz do governo brasileiro um sucesso de popularidade? A minha resposta para essa questão é bem simples. Desde que o Brasil encerrou a fase de crise econômica permanente, dando fim ao caos econômico e inaugurando um crescimento estável e inflação controlada (com o governo FHC e governo Lula) a população passou a se tornar apática politicamente. O governo Lula concluiu oito anos de crescimento econômico considerável e o impacto na qualidade de vida das pessoas tornou todas as demais questões políticas (corrupção, educação, política externa, etc.) desinteressantes para o eleitorado. A única coisa que interessa ao povo brasileiro, atualmente, é o crescimento do consumo.
Consumo: muito além do feijão com arroz

 Com a economia em dias, a classe média passou a consumir mais, e o consumo chegou, pela primeira vez, a classes humildes da população, foi um processo longo para o país onde o PT se inseriu com êxito. Mas nada disso pode sozinho justificar os sucessos petistas. Por detrás da qualidade do governo Lula no aprimoramento da política econômica e em engatilhar o Brasil no crescimento, existe a poderosa máquina de propaganda que o PT iniciou na primeira vitória de Lula e que nunca encerrou. O carisma do presidente “operário-retirante” somado ao sucesso do maquinário ideológico e de propaganda deu a inúmeros brasileiros uma sensação contínua de bem-estar social. Varrido o governo FHC da memória dos brasileiros pela ideologia petista, restou apenas a identificação do governo Lula, ou quiçá de Lula, no sucesso recente do Brasil.

Nem o mensalão ou a recente crise nos ministérios é capaz de tocar o sentimento do povo, que em situações normais poderiam ter sido levados a diminuir a popularidade do governo. Toda a fascinação pelo petismo se esconde no sucesso econômico e na propaganda disseminada. O escândalo que derrubou Collor foi decisivo para o seu governo, mas o “mensalão” não foi decisivo para Lula. Não apenas porque a convulsão de um impeachment não era desejada, mas principalmente porque para que um governo seja mal avaliado é fundamental a percepção do povo da sua própria condição econômica, percepção nefasta em Collor e positiva em Lula. Isso, o crescimento econômico, foi uma realização a que o PT mais atribuiu a si do que dele diretamente decorreu, tudo graças ao êxito propagandístico.

Como uma boa logomarca, a estrelinha também evoluiu.


Para finalizar essa análise, é necessário ainda acrescentar um fator que surge como um dos mais fortes e determinantes da boa imagem dos governos nacionais petistas. Esse fator é a correlação entre a ascensão de Lula e o fim dos governos assim chamados de “elitistas”. A primeira vitória de Lula foi construída sobre o baluarte da ética pública, foi identificada com uma reviravolta nacional em que pela primeira vez um partido genuinamente de esquerda havia alcançado o governo. Apesar do apoio que se seguiu do PMDB e de outros partidos ligados à política tradicional e sendo o PT um partido aceito pelas classes altas e inofensivo aos seus interesses, não é assim que a militância observa o seu próprio partido que dissemina o mito da perseguição e golpismo elitistas. Esse mito é uma das bases de sustentação do PT, funcionando como gasolina ou combustível para a continuidade da marcha utópica que anteriormente movera os militantes do partido.

Com essas considerações finais e sem formalismos de regras de redação, encerro o texto. Agora é esperar como uma CPI voltada em parte para a oposição poderá contribuir no apoio da população ao governo petista, eu palpito que a CPI será irrelevante como fator positivo na avaliação da presidente. Como tudo tem sido, a não ser a economia e o consumo.

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