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| Nascimento de Vênus, William-Adolphe Bouguereau. A beleza da deusa graga do amor tornou-se tema recorrente na arte. |
A história da arte encontra-se relacionada com a história da representação da nudez humana. Desde a exibição heróica da nudez dos deuses gregos até as atuais campanhas de moda, o homem perseguiu na representação da nudez do semelhante uma forma de manifestação do erotismo.
Atualmente um recurso tornou-se difundido no entretenimento como medida de diferenciação entre a exibição tolerável e intolerável do corpo humano: o conceito de nudez parcial. Para Hollywood a nudez parcial, preservando o púbis e os órgãos sexuais, passou a ser a regra. A moda também explora nas campanhas publicitárias a sensualidade e a nudez parcial.
Com esse artifício a nudez aproximou-se ainda mais da cultura. Do ponto de vista da nudez, a diferença entre os filmes pornográficos e os filmes de Hollywood passou a ser o objetivo, a finalidade, com que ela é representada. Nos primeiros ela surge como um acontecimento envolvido em uma trama maior de romance, suspense ou drama, nos segundos ela aparece diretamente retratada dentro de sua finalidade primordial de transmitir prazer. Cada dia mais longas, as cenas de nudez e sexo representadas nos filmes nos fazem questionar se essa regra diferenciadora continua sendo preservada. O quanto a indústria do cinema passou a explorar a nudez pela própria nudez?
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| A nova marca japonesa UNIQUO aposta no óbvio: jeans e nudez parcial. |
A nudez escancarada dos filmes pornográficos encontra a sua raiz ancestral na pornografia feita através do desenho na arte rupestre. A fotografia pornográfica e o cinema pornô, por sua vez, surgem com o advento da fotografia e do cinema. A arte rupestre, contudo, representa atos sexuais com a infantilidade e despudor de um homem que não conhecia a moral sexual que viria a trazer o grande conflito da exibição da nudez: a vergonha e a culpa. Na tradição bíblica, por exemplo, Adão e Eva passam a cobrir o corpo diante de Deus após comerem do fruto proibido e tornarem-se conhecedores do bem e do mal. Entretanto, nem a Bíblia se esvai em culpa, a vivência correta e saudável da sexualidade é o tema de um dos mais belos livros bíblicos, Cântico dos Cânticos, atribuído ao Rei Salomão.
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| Rei Salomão e a rainha de Sabá (1959). Teus dois seios são como dois filhos gêmios da gazela, que se apascentam entre os lírios. Cântico dos Cânticos, 4:5. |
Desde o desfile dos jovens em maio de 1968 na França, as idéias liberais que sacudiram a velha moral européia encontraram inúmeros desafios pela frente. Hoje sabemos que a vivência desregrada da sexualidade tem a mesma força de desumanizar que a vivência moralizadora da antiga moral. O medo de exibir a nudez pode ser mais saudável que o despudor em demonstrá-la. O risco da sexualidade não é apenas a culpa paralisante, mas também o despudor que transforma o homem e a mulher em puro objeto de desejo, desrespeitando seus sentimentos e sua condição de humanos. A dificuldade presente na nossa sociedade é a de saber dosar essas tensões em busca de um equilíbrio que nos encaminhe para uma vivência da sexualidade sem culpa e com respeito a dignidade de cada um. É o conhecimento do sexo como forma dígna de manifestação do afeto e propulsor de dignidade.
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| Pamela Anderson em sua 7ª capa de Playboy (1999). Capa de 11 edições da revista, a atriz é símbolo da paixão americana por nudez. |






2 comentários:
O que arte sem a nudez? O corpo humano é belo, desde que seja mais que um mero objeto de exploração sexual. Tudo depende sempre dos olhos de quem vê.
Bonito e bem conceituado teu blog.
Parabéns
Segue de volta e comenta por favor? *-*
www.luliskd.blogspot.com
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