sexta-feira, 24 de setembro de 2010

(PRIMAVERA)


Primavera, Carl Larsson
               As nuvens começam a se dissipar e os primeiros raios de sol surgem anunciando o fim da tempestade. O calor volta a abraçar os espectadores que admiram da janela o retorno da esperança. É a volta da vida após o susto.
             
            Abro a janela e o vento, ainda forte, penetra no meu corpo. Ele carrega um pouco do calor do sol. Os traços do céu ainda são pesados, mas existe um prenúncio de alegria. Contagiado pelos anúncios de sol, já sinto o dia claro, azulado e acompanhado de uma orquestra de pássaros. É primavera no meu coração.
    
             O amor não deve ser outra coisa senão uma primavera. O amor é o cuidado com o outro e o cultivo da inocência. Não pode haver amor onde não houver pureza. O amor há de ser nobre, o mais nobre dos sentimentos. O sangue dos amantes deve ser azul, principesco, jovial e corajoso.  O amor deve se aproximar de Apolo, com forma muscular bem cultivada e harmônica, além de intelectualmente criativo e poético. A perfeição da mente e do corpo, esse deve ser o retrato mais aproximado do amor. O amor de dois verdadeiros amantes, ao se materializar, deve se materializar como Apolo.
        
           Nos concertos as Quatro Estações de Vivaldi a primavera se apresenta rica em sons, em variações, aflorada e transmissora de vida, ao oposto do verão que a segue grave e imperioso.  É convidativa, como deve ser convidativo aos amantes aproveitar a beleza das cores que ganham especial destaque nessa época do ano. As quatro estações estão perfeitamente representadas na obra de Vivaldi. Junto com os poemas que a acompanham, percebemos um cuidado em expressar em sons as sensações despertadas pelas estações. Mais do que uma estação do ano,  porém, a primavera, verão, outono e inverno são sentimentos, estados psicológicos, que podem ser perfeitamente internalizados. O que eu internalizo agora é a primavera.  
       
           Como em La vie en rose (Edith Piaf) vejo a vida em cor-de-rosa. Como diz a música, “entrou no meu coração um pouco de felicidade e conheço a causa”. É a presença do amor. Ele me trouxe a estrela da manhã, que impera a sua luz mesmo com o fim da noite. Solitária apenas no céu, a estrela da manhã vive a graciosa companhia do meu olhar atento a fitá-la. Somos amantes, e não à distância, o mesmo céu que ela brilha é o céu dos meus sentimentos.     

Estou realmente experimentando uma primavera no meu coração? Não sei. Entretanto, nunca vi um anúncio de fim de tempestade como esse. Ao que tudo indica há de se seguir o azul e aguardo impaciente que o azul siga.
   
           Independente de como o tempo vá se comportar, uma coisa posso garantir: sei como o amor deve se representar. Ele virá acompanhado de um concerto de Vivaldi, tingindo o céu com seus matizes coloridos e me transmitindo, antes de tudo, esperança.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lamaçal na Casa Civil



Cinco dias de desgaste até a ministra da Casa Civil Erenice Guerra pedir demissão. O pedido de demissão na verdade esconde uma exoneração do Presidente. Até a publicação da reportagem desta semana na revista Veja, tudo indicava que a ex-ministra continuaria no cargo. Porém, as denúncias feitas por Folha de São Paulo fizeram transbordar o copo, foram a gota d’água. A ministra caiu.
Amigada da candidata Dilma Rousseff, a ex-ministra ocupou cargos relacionados com o Ministério de Minas e Energia e depois que Dilma foi alçada, pós-escândalo do mensalão, à condição de Ministra da Casa Civil, acompanhou a colega e passou a ser secretária-executiva do ministério. Para onde fosse Dilma, era levada a colega Erenice. Será que Dilma desconhecia as práticas dos filhos de Erenice, tendenciosos a fazer lobby em contratos volumosos com o governo, tudo com o consentimento e participação da mãe? Bom, isso a candidata nega, mas o bom senso só pode nos levar a imaginar o contrário.
O filho de Erenice, Israel Guerra, além de lobista, ocupava um cargo na Terracap, vinculado ao Distrito Federal. Recebia R$ 6.800 sem pisar no serviço. Funcionário fantasma, portanto. Israel Guerra também ocupou cargos na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
A empresa do filho de Erenice Guerra prometeu a empresários intermediar com a sua mãe um financiamento com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Social). Em troca, a empresa de Israel Guerra embolsaria seis parcelas de 40 mil e 5% do valor total do contrato. Os empresários se negaram a  propina. Em reportagem da revista Veja, ficou demonstrada a participação da mesma empresa na facilitação de um negócio entre um grupo do setor aéreo e os Correios. Tudo com a participação da ex-ministra, que inclusive teria se reunido com os empresários. Partes das falcatruas ocorreram ainda na era Dilma na Casa Civil.
A ex-ministra prometeu contra-atacar a revista Veja por meios legais. “Sinto-me atacada em minha honra pessoal e ultrajada pelas mentiras publicadas sem a menor base em provas ou em sustentação na verdade dos fatos, cabendo-me tomar medidas judiciais para a reparação necessária. E assim o farei. Não permitirei que a revista 'Veja', contumaz no enxovalho da honra alheia, o faça comigo sem que seja acionada tanto por danos morais quanto para que me garanta o direito de resposta"

O impacto das denúncias sobre as eleições é incerto. Pesquisa divulgada recentemente demonstrou que apenas 1 em cada 10 eleitores se sente bem informados sobre as quebras de sigilo de pessoas ligadas à Serra. Não duvido que grupo ainda menor se demonstre informado sobre as denúncias na Casa Civil que revelam ter o principal ministério do governo se transformado em palco de negociatas e corrupção.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lula: o extirpador

Em declarações em um comício em Santa Catarina Lula afirmou “nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira”, mais a frente, no mesmo discurso, Lula complementa “nós já aprendemos demais, já sabemos quem são os Bornhausen. Eles não podem vir disfarçados de cordeiros. Já conhecemos as histórias deles”. Além de verbalizar seus planos maliciosos contra o DEM, o Presidente aproveitou para alfinetar os Bornhausen, lideranças de Santa Catarina.

As declarações são chocantes, o maior problema, porém, é saber se Lula realmente se sente em condições de extirpar um partido do cenário político. Será que ele estaria com tanta bola assim? Sabemos que o DEM é o principal aliado do PSDB nessas eleições e eixo da oposição ao petismo, um partido de larga tradição que sempre esteve no centro dos principais acontecimentos políticos do Brasil. A extirpação do DEM só beneficiaria o PT e prejudicaria a democracia instituindo o monopartidarismo no Brasil. Talvez seja este o sonho atual do PT.

O deputado federal e presidente do DEM Rodrigo Maia (DEM/RJ), em rebate às críticas de Lula afirmou que “o discurso mostra que o Lula está desequilibrado. Presidente que fala em extirpar partido político em pleno processo eleitoral revela seus pendores autoritários”. E completou: "o caminho para extirpar o adversário é na linha da Alemanha nazista. O presidente age de forma autoritária ao invés de deixar o eleitor decidir”.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também percebeu o autoritarismo do discurso, "isto extrapola o limite do estado de direito democrático", e continuou "faltou quem freasse o Mussolini. Alguém tem que parar o Lula". Finalizando, afirmou o ex-presidente: "para o equilíbrio dos poderes. O Presidente está extrapolando o poder político." Já o deputado federal Paulo Bornhausen (SC) afirmou que "Lula tentou dividir o Brasil em dois países, de pobres e ricos".

Todos esses acontecimentos só nos revelam o quanto presidente perdeu as estribeiras, a modéstia, e diante da alta popularidade que experimenta – fruto exclusivamente dos sucessos da política econômica que somente seguiu o óbvio da cartilha das regras de economia – se transformou em um super-lider, em um megalomaníaco, em um incitador de massas.

Com o bolso cheio de dinheiro (graças a uma política econômica que não passa de uma excelente continuidade do governo FHC) a classe média não tem do que reclamar e com a origem popular do presidente a classe trabalhadora também se desmancha em afeto por Lula. Agradar a gregos e troianos é perfeitamente possível, comprovou o PT. E diante de tanto êxito o Presidente há muito tempo perdeu a compostura.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DO ALTO DO PEDESTAL PETISTA




A invasão de dados sigilosos de membros do PSDB e familiares do candidato à presidência José Serra mostra o quanto o PT se sente protegido pela opinião pública para praticar atos ilegais. O partido passou a abusar da popularidade aderindo a pratica da bisbilhotagem e arapongagem. Blindado pelo povo e dentro da velha máxima de que os fins justificam os meios, o PT não poupa esforços para vencer as eleições e se afirmar no poder.


Além da violação de dados relacionados com a Receita Federal, o PT também se envolveu na confecção de um dossiê do candidato José Serra montando uma quadrilha de espionagem que envolveria até um ex-delegado da polícia federal e um egresso da inteligência da FAB.


Difícil tem sido para José Serra explicar aos eleitores -- em que a maioria nunca sequer declarou imposto de renda na vida -- a gravidade dessas violações. O Presidente da República, cuja principal ocupação deve ser governar o país, tem aparecido diariamente na televisão para incitar seus apoiadores. O presidente disse que Serra partiu para a “baixaria”. Será baixaria demonstrar indignação por ter a vida pessoal de seus parentes revirada pela espionagem petista?


A seu turno, no exílio, em entrevista dada à revista Istoé, FHC revelou estar de malas prontas para a Europa. Na propaganda partidária do PSDB o ex-presidente não apareceu uma única vez ao lado do candidato José Serra. Alguns intelectuais com quem tenho conversado têm dividido comigo a opinião de que o fracasso do PSDB nessas eleições tem uma relação direta com a demonização de FHC, promovida lentamente pelo PT e pela oposição do antigo governo tucano. O governo FHC recebeu como herança dos outros governos a mesma oposição charlatã, ingênua e dada a factóides que se contrapunha aos presidentes brasileiros os acusando, como só sabem fazer, de serem elitistas.


O governo FHC foi o primeiro governo da redemocratização a não experimentar um caos econômico generalizado e escândalos de corrupção capazes de desconstituir as bases da melhor democracia. Não resta dúvida de que o governo FHC foi crucial para a retomada do crescimento econômico e amadurecimento das instituições. O maior erro do PSDB é, sem dúvida, não ter combatido os factóides movidos pela sua oposição, revelando a importância e qualidade do governo FHC. O ex-presidente disse à Istoé que será redimido pela história, espero que o Brasil não seja tão ingênuo ao ponto de esperar que o “oba-oba” petista chegue ao fim para acertar os créditos com o seu passado.


Ao eleger o PT pela primeira vez, o povo brasileiro achava estar optando por uma moralização que o partido traria à política brasileira, em contraponto a uma política corrupta e ineficiente que eles identificavam, erradamente, como tendo sido continuada no governo FHC. O povo não votou só contra FHC, votou contra a política em sua generalidade imaginando que o PT fosse capaz de remover todos os vícios da política brasileira, vícios que demoraram séculos para se constituírem, e como mostraram os fatos, mantiveram-se no governo petista.


Agora, o PT insiste em números e dados que revelam o crescimento econômico e desenvolvimento social da era Lula. A propaganda partidária petista incita o povo a um verdadeiro “oba-oba” em torno de suas realizações, o que não passa de uma ilusão propagandista. Desleal, Lula desponta ao povo como único responsável pelas benesses que o Brasil experimenta. Inebriado pelo apoio da opinião pública, Lula se mostra como ícone, como salvador da pátria. O fascínio que as camadas mais pobres da população têm demonstrado pelo lulismo tem se mostrado mais forte que qualquer artifício usado pelas antigas elites do Brasil para dominar os pobres e se manter no poder. Agora nos resta tentar prever por mais quantos anos o povo brasileiro se permitirá contaminar pelas falácias petistas.


Em meio a tudo isso, uma pergunta fica no ar: que momento será esse em que o povo brasileiro derrubará Lula (ou Dilma) do salto?