![]() |
| Primavera, Carl Larsson |
Abro a janela e o vento, ainda forte, penetra no meu corpo. Ele carrega um pouco do calor do sol. Os traços do céu ainda são pesados, mas existe um prenúncio de alegria. Contagiado pelos anúncios de sol, já sinto o dia claro, azulado e acompanhado de uma orquestra de pássaros. É primavera no meu coração.
O amor não deve ser outra coisa senão uma primavera. O amor é o cuidado com o outro e o cultivo da inocência. Não pode haver amor onde não houver pureza. O amor há de ser nobre, o mais nobre dos sentimentos. O sangue dos amantes deve ser azul, principesco, jovial e corajoso. O amor deve se aproximar de Apolo, com forma muscular bem cultivada e harmônica, além de intelectualmente criativo e poético. A perfeição da mente e do corpo, esse deve ser o retrato mais aproximado do amor. O amor de dois verdadeiros amantes, ao se materializar, deve se materializar como Apolo.
Nos concertos as Quatro Estações de Vivaldi a primavera se apresenta rica em sons, em variações, aflorada e transmissora de vida, ao oposto do verão que a segue grave e imperioso. É convidativa, como deve ser convidativo aos amantes aproveitar a beleza das cores que ganham especial destaque nessa época do ano. As quatro estações estão perfeitamente representadas na obra de Vivaldi. Junto com os poemas que a acompanham, percebemos um cuidado em expressar em sons as sensações despertadas pelas estações. Mais do que uma estação do ano, porém, a primavera, verão, outono e inverno são sentimentos, estados psicológicos, que podem ser perfeitamente internalizados. O que eu internalizo agora é a primavera.
Como em La vie en rose (Edith Piaf) vejo a vida em cor-de-rosa. Como diz a música, “entrou no meu coração um pouco de felicidade e conheço a causa”. É a presença do amor. Ele me trouxe a estrela da manhã, que impera a sua luz mesmo com o fim da noite. Solitária apenas no céu, a estrela da manhã vive a graciosa companhia do meu olhar atento a fitá-la. Somos amantes, e não à distância, o mesmo céu que ela brilha é o céu dos meus sentimentos.
Estou realmente experimentando uma primavera no meu coração? Não sei. Entretanto, nunca vi um anúncio de fim de tempestade como esse. Ao que tudo indica há de se seguir o azul e aguardo impaciente que o azul siga.
Independente de como o tempo vá se comportar, uma coisa posso garantir: sei como o amor deve se representar. Ele virá acompanhado de um concerto de Vivaldi, tingindo o céu com seus matizes coloridos e me transmitindo, antes de tudo, esperança.
_av_Carl_Larsson.jpg)



