domingo, 24 de janeiro de 2010

“CARRIE BRADSHAW SABE O QUE É SEXO BOM E NÃO TEM VERGONHA DE PERGUNTAR"




Antes de limpar a cozinha do apartamento e lavar o a louça (tarefas domésticas de domingo) assisti dois episódios do seriado Sex and the City. Foi quando tive a idéia de escrever a minha primeira postagem sobre sexo. É um tema que abordei apenas superficialmente no blog, ao contrário da protagonista da série que escreve exclusivamente sobre sexo em uma coluna de jornal. Vestirei a pele de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) por pelo menos uma postagem.
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Para ter uma boa noite de sexo não é preciso ter um corpo perfeito. Quando duas pessoas estão nuas não estão se exibindo como se fossem modelos da Vogue ou de uma revista erótica. É normal sentir vergonha de sua nudez, e a televisão, os filmes, acostumaram a nossa geração ao exibicionismo. A vergonha, a timidez, é o que nos aproxima de verdade dos nossos parceiros sexuais, são esses sentimentos que os convidam a experimentar nossas fraquezas e confiança. Como comparar a nudez envergonhada do quadro “Puberdade” de Munch com a nudez fashionista de Madona? Longe de afirmar que a beleza não deva ser vivenciada (ou mesmo que não exista beleza no mundo fashion e do cinema), o que tento é chamar a atenção dos jovens que estão agindo precipitadamente fazendo o possível para simular esses universos. A união sexual é um ato de amor, de troca mútua e de fragilidade, e não somente de prazer.
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Eu tive um interessante número de parceiros sexuais e nunca me envolvi em um relacionamento sério e estável que durasse por mais de um ano. Não que eu seja autosuficiente, simplesmente as pessoas certas que apareceram não quiseram ficar comigo. Encontrei todos os defeitos possíveis em cada affair pelo qual passei, meus casos revelam o mesmo universo de dificuldades sentimentais que passamos a coligar no mundo de hoje. Mas não tenho problema em assumir: eu tenho, sim, medo de relacionamentos.
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Os jovens estão começando a vida sexual cada vez mais cedo, alguns falam que vivemos a "ditadura do sexo", se antes era proibido e evitado, agora é obrigatório e precisa ser feito. Disseram-me que a Susan Boyle tinha o charme do "sexo-zero", daquelas pessoas que vivem enclausuradas sem companhia sexual com desejos reprimidos. Agora o pior pesadelo dos amantes é a solidão dos feios, dos mal amados, enquanto se tornam belos fascinados por falsidades e tão mal amados quanto.
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Em todos os artigos a Carrie Bradshaw faz uma pergunta. A minha não pode faltar: "será que o que precisamos fazer, sexualmente, é assumir que sentimos vergonha?".

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O primeiro artigo que publiquei em jornal










Uma Autobiografia e uma história confusa (ano: 2006)





FHC publi­cou a sua autobiografia este ano com o nome Arte da Política: A História que Vivi. O livro é uma narração dos eventos que ocorreram durante o seu mandato e uma dissertação sobre o seu modelo para desenvolvimento do Brasil, onde FHC explica os motivos de ter tomado as decisões que tomou e tenta resolver os mal-entendidos. No que trata dos seus próprios erros, a sua autobiografia se depara com a realidade de qualquer autobiografia escrita por político: é uma defesa pessoal, FHC confunde discurso livre com ativismo político.

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FHC teve uma carreira intelectual invejável, dedicando-se a universidade e a política de forma semelhante. Foi professor por trinta e sete anos, passando por Sorbonne e pela Universidade de Berkeley. A carreira política lhe aconteceu meio ao acaso onde foi fundamental o mandato de senador que herdou como suplente. Fundador do PSDB, foi ao lado de Mario Covas e Franco Montoro que iniciou um reduto no estado de São Paulo, começando uma nova história na política brasileira. Através dele e de seu partido um novo grupo de democratas, com uma nova visão política, chega ao poder. Um movimento antagônico leva o PT a uma posição de destaque. Chega então a vez do PT e do PSDB, pertencentes a dois caminhos distintos, mas que possuem em comum o fato de terem nascido do embates que movimentaram a refundada democracia brasileira.

A estrutura do Parlamento brasileiro passou a ter uma nova figura durante os seus dois mandatos, junto com o crescimento da esquerda e dos partidos menores. A aliança com partidos fortes, de base parlamentar sólida, caracterizou o seu governo, viciando o Congresso e dando inicio a uma tradição. Uma espécie de relação partidária fundamentada na coligação, na divisão das pastas dos ministérios e no favorecimento político, se consagrou com FHC e passou a ser o princípio do presidencialismo brasileiro.


O ano da publicação da sua autobiografia não foi o ano da volta do PSDB ao Palácio da Alvorada. O seu partido e as forças políticas que o levaram à presidência saíram derrotadas mesmo com o movimento de denúncias movidas pela imprensa e pelos órgãos de fiscalização do Estado. O esforço feito pelos legisladores da oposição não levou o governo petista ao fracasso na reeleição; a mesma lei que lhe garantiu mais quatro anos na presidência se mostrou útil também aos políticos petistas.


Paulo Markun tornou célebre em seu livro O Sapo e o Príncipe a expressão “o sociólogo e o operário”. A história recente do Brasil, a história de um presidente sociólogo e de um presidente operário, é analisada em seu livro tratando também os aspectos da semelhança; não são tão distantes assim, um como o outro seriam lados de uma mesma moeda, moeda que manteve os partidos majoritários do legislativo (PFL E PMDB) longe da chefia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Conflitos ultrapassados, texto do meu diário




Terça-feira, 03 de março de 2009.

Ao chegar ao apartamento percebi que no primeiro andar, logo a frente, havia uma festa muito movimentada ao som de rock and roll. Tocavam músicas do rock mais recente. Os risos, as conversas e o movimento inteiro da festa, fizeram-me lembrar da tentação de sempre que é abandonar os estudos e viver de farras. Tentado por essa idéia e pela falta de cigarros, decidi ir até um boteco no bairro ao lado do condomínio para comprar um maço e algumas cervejas para trazer para casa.

Enfrentei a chuva até lá com um guarda-chuva. O boteco estava com baixo movimento, todo na parte interna, sem as mesas da rua que são de costume. Não havia nenhuma mulher, somente alguns rapazes bebendo cerveja e jogando sinuca. Um era especialmente belo e realmente foi capaz de chamar minha atenção, observei-o desde que entrei. Sorriso carismático e aquele formato de cabeça característico de todos os rapazes belos., que forma uma meia lua em cima da nuca. Era o único branco.

Ao ver o dono do boteco perguntei quais cigarros ele tinha para vender, disse-me que tinha “carlton” e “hollywood”, além de algumas marcas que nunca fumo pela procedência duvidosa e péssimo gosto. Pedi uma carteira de “carlton” e perguntei sobre cerveja em lata ou longneck. Ele respondeu que não vendia nenhuma das duas, restando para mim a única alternativa de beber no bar. Aproveitei o fato para observar o comportamento dos rapazes que bebiam.

Sentei de pernas cruzadas, sem camisa, com o guarda-chuva ao lado da mesa. Na televisão passava um filme e pude reconhecer Halle Barry e Heath Ledger, e em poucos segundos mais, reconheci o filme, tratava-se de a “A Última Ceia”. Então perguntei ao rapaz mais belo da turma “nesse filme tem um condenado à morte?”. Ele respondeu que não sabia, o que para mim pouco importou, só queria que me dirigisse a palavra.

Ao longo da cerveja e dos cigarros que fumei, os rapazes comentavam sobre o filme, respondendo com expressões faciais e urros conforme as cenas fortes (como a de execução do condenado a morte) aconteciam. Percebi nesse instante, ao vê-los descontraídos, ocupados com as cervejas e suas conversas divertidas, o quanto a felicidade da vida está mesmo em momentos como esse, que são fáceis para eles de conseguir, bastam ir àquele bar e beber cervejas e conversar. Eu estava ali não como convidado, mas como espectador forasteiro, tentava compreender toda a beleza poética daqueles meninos envolvidos com jogos e descontração. Eu voltava da universidade do curso que nunca quis fazer, preocupado com a atividade financeira do estado, ou outra burocracia insuportável, enquanto aqueles rapazes voltavam de algum trabalho ou de uma escola pública. “O meu curso é uma morte, é uma morte lenta. Não chegarei a lugar nenhum”, pensei várias vezes. “Tenho agora com este diário poucos minutos de construção da minha personalidade, quando decidi escrever sobre o que vi e participei neste dia, decidi salvar a mim do comum a que me condenei. Como seria bom caso meus estudos contribuíssem para minha visão de mundo!”.

Tentava não observar seguidamente o rapaz bonito de que falei. Poderia pensar alguma coisa de mim ou estranhar que lhe olhasse, memorizei uma ou outra das expressões que achava que tinha de mais belo. Queria que falassem, queria que todos eles falassem e vivessem, que se divertissem. Eu tinha ali no corpo magro daqueles meninos morenos, com os contornos dos músculos esguios e ágeis, a poesia que perdi. Eles jogavam sinuca e se movimentavam provocando muita admiração em mim.

Paguei a conta e voltei para casa.