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| Dilma no palanque. Foi preciso aprender fazendo. |
Quando o país elegeu para presidente
uma mulher que nunca tinha disputado uma eleição, nascida e desenvolvida
politicamente nos bastidores, com dificuldade de se expressar, uma mulher a que
um palanque era tudo, menos o seu lugar natural, a minha justificativa foi
atribuir a vitória ao sucesso político do presidente Lula e ao insucesso do
PSDB em insistir na candidatura de Serra (fraco).
Contudo, depois dos primeiros voos do
governo, quando surgiram os índices altíssimos de aprovação, as minhas dúvidas
cresceram. O que fez após a queda de inúmeros ministros envolvidos com
corrupção, com o crescimento econômico estagnado e inferior aos índices do
governo anterior, a presidente manter nas pesquisas resultados de aprovação
característicos de grandes governos?
73% de aprovação. Isso não é qualquer
coisa. Isso é um índice alto de popularidade e nas democracias atuais um índice
difícil de alcançar. Então. O que faz do governo brasileiro um sucesso de
popularidade? A minha resposta para essa questão é bem simples. Desde que o
Brasil encerrou a fase de crise econômica permanente, dando fim ao caos
econômico e inaugurando um crescimento estável e inflação controlada (com o
governo FHC e governo Lula) a população passou a se tornar apática
politicamente. O governo Lula concluiu oito anos de crescimento econômico
considerável e o impacto na qualidade de vida das pessoas tornou todas as
demais questões políticas (corrupção, educação, política externa, etc.)
desinteressantes para o eleitorado. A única coisa que interessa ao povo
brasileiro, atualmente, é o crescimento do consumo.
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| Consumo: muito além do feijão com arroz |
Com a economia em dias, a classe média passou
a consumir mais, e o consumo chegou, pela primeira vez, a classes humildes da
população, foi um processo longo para o país onde o PT se inseriu com êxito. Mas
nada disso pode sozinho justificar os sucessos petistas. Por detrás da qualidade
do governo Lula no aprimoramento da política econômica e em engatilhar o Brasil
no crescimento, existe a poderosa máquina de propaganda que o PT iniciou na
primeira vitória de Lula e que nunca encerrou. O carisma do presidente
“operário-retirante” somado ao sucesso do maquinário ideológico e de propaganda
deu a inúmeros brasileiros uma sensação contínua de bem-estar social. Varrido o
governo FHC da memória dos brasileiros pela ideologia petista, restou apenas a
identificação do governo Lula, ou quiçá de Lula, no sucesso recente do Brasil.
Nem o mensalão ou a recente crise nos
ministérios é capaz de tocar o sentimento do povo, que em situações normais
poderiam ter sido levados a diminuir a popularidade do governo. Toda a
fascinação pelo petismo se esconde no sucesso econômico e na propaganda
disseminada. O escândalo que derrubou Collor foi decisivo para o seu governo,
mas o “mensalão” não foi decisivo para Lula. Não apenas porque a convulsão de
um impeachment não era desejada, mas
principalmente porque para que um governo seja mal avaliado é fundamental a
percepção do povo da sua própria condição econômica, percepção nefasta em
Collor e positiva em Lula. Isso, o crescimento econômico, foi uma realização a
que o PT mais atribuiu a si do que dele diretamente decorreu, tudo graças ao
êxito propagandístico.
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| Como uma boa logomarca, a estrelinha também evoluiu. |
Para finalizar essa análise, é necessário ainda acrescentar um fator que surge como um dos mais fortes e determinantes da boa imagem dos governos nacionais petistas. Esse fator é a correlação entre a ascensão de Lula e o fim dos governos assim chamados de “elitistas”. A primeira vitória de Lula foi construída sobre o baluarte da ética pública, foi identificada com uma reviravolta nacional em que pela primeira vez um partido genuinamente de esquerda havia alcançado o governo. Apesar do apoio que se seguiu do PMDB e de outros partidos ligados à política tradicional e sendo o PT um partido aceito pelas classes altas e inofensivo aos seus interesses, não é assim que a militância observa o seu próprio partido que dissemina o mito da perseguição e golpismo elitistas. Esse mito é uma das bases de sustentação do PT, funcionando como gasolina ou combustível para a continuidade da marcha utópica que anteriormente movera os militantes do partido.
Com essas considerações finais e sem
formalismos de regras de redação, encerro o texto. Agora é esperar como uma CPI
voltada em parte para a oposição poderá contribuir no apoio da população ao
governo petista, eu palpito que a CPI será irrelevante como fator positivo na
avaliação da presidente. Como tudo tem sido, a não ser a economia e o consumo.



