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| Em Tempos Idos, Cartola canta o auge do samba. O gênero está cada dia menos presente no subúrbio do Rio. |
O que está acontecendo com a cultura, cinema, teatro,
televisão e música, escondem cúmplices tão culpados quantos os diretamente
responsáveis pela produção de baixa qualidade que assolou a arte.
Esses cúmplices são os intelectuais e os artistas que produzem com qualidade e
que não enfrentaram ainda a responsabilidade pelos resultados gerais
da cultura.
Especificamente sobre o Brasil, a situação é crítica. Atualmente jovens de elevada formação educacional, de nível superior às vezes, desconhecem o que caracteriza a qualidade artística mínima. Como eles conseguem se tornar profissionais de alto desempenho em áreas complexas da ciência enquanto consomem uma cultura característica de uma educação fragilizada? Isso desafia a lógica. Os jovens brasileiros que atingem alto rendimento nas universidades atingiriam resultados ainda melhores se fossem capazes de identificar a arte de qualidade.
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| Por que excelentes alunos não identificam boa música? A complexidade técnica não acompanha o refinamento do espírito. |
Em parte, a culpa disso é o que acontece extramuros. Após as aulas o mundo do estudante volta a ser o mesmo. A televisão continua com a mesma programação de sempre, a rádio e a internet também. As conversas dos estudantes vão girar entorno do que está comumente disposto nesses meios e a escola não pode controlar o que acontece do lado de fora. A cultura do adolescente de classe média está repleta de livros, música, cinema e até teatro. O problema é que tudo isso superficial e ruim.
A televisão, uma das maiores vilãs, acusa o público pela baixa qualidade artística da programação. Para ela a programação é ruim porque o grande público não adere a produções mais sofisticas. Em busca de se financiar, a televisão atende ao público. Afinal, posso culpar as pessoas por não exigirem uma cultura que não têm?
A restrição à liberdade ou mesmo a conduta autocrática de dizer ao outro o que fazer da sua vida, é evitada pelos intelectuais que dominam a opinião, conseqüência decorrente da sua formação liberal. Afinal, a arte moderna nasceu rompendo paradigmas e superando críticos e valores. Assim, os intelectuais e os bons artistas celebraram com a arte ruim um pacto de mútua convivência. Com esse mantra, eles se esbaldam nos bolsões de boa cultura e se sentem irresponsáveis pelo que as pessoas fazem com a tão cara liberdade artística e de consciência.
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| Há poucas décadas, a música popular brasileira liderava a venda de vinis. |
Ledo engano. Os bárbaros um dia gritarão tão alto que penetrarão a mais dura das bolhas. Apagada da cultura de massas, a arte de qualidade sobrevive na memória dos grandes artistas e no culto dos intelectuais. Trata-se agora de expandir esses bolsões e convidar o grande público à mesa. Objetivo este só atingível com a flexão do verbo mais antigo em material de responsabilidade social: engajar. Só existe uma política de convivência possível com a arte ruim: tolerância zero.



