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| FHC: 80 anos de pura história. |
Fernando Henrique Cardoso comemorou o seu 80º aniversário no dia 18 de junho. Símbolo da única oposição possível ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, FHC não recebeu nenhum telefonema, nem carta, nem manifestação pública por parte do rival. Os jornais destacaram, contudo, a carta escrita pela presidente Dilma Rousseff. Na carta elogiosa, ela atribui a FHC a estabilização da economia.
Pela repercussão da imprensa à carta da presidente, tem-se a impressão de que o PT finalmente teve a coragem de assumir o legado deixado pelo governo de FHC ao invés de disseminar a ideologia de “herança maldita”, estratégia estapafúrdia que garantiu ao partido três vitórias seguidas nas eleições presidenciais.
Entretanto, o singelo gesto presidencial não tem a força de redimir tantos anos propagadores dessas idéias de injustiça. Nem tampouco demonstra um sinal de mudança no comportamento petista. É na verdade um breve afago ainda fortemente marcado pela vergonha. Pela altura do orgulho petista, pode-se compreender como um gesto vitorioso para alguém dotado de um ego tão acentuado.
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| Depois do caos inflacionário, uma moeda capaz de agregar valor a uma unidade. |
Independente do reconhecimento petista o importante é o reconhecimento que será dado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por intermédio da história. Mesmo com o débil esquerdismo que ainda domina as universidades brasileiras, não se cogita a hipótese de um atentado à memória dos fatos naquilo que eles evidenciam de mais notório. É que FHC deu o pontapé inicial, lançou a pedra fundamental do equilíbrio econômico e democrático. Nem as tão celebradas conquistas sociais do governo Lula seriam possíveis caso Lula tivesse que enfrentar o caos econômico-financeiro que o governo FHC enfrentou e foi capaz de afugentar. Ao invés de desafiar Lula para disputar uma nova eleição ou mesmo a um debate no seu instituto, como já fez anteriormente, Fernando Henrique Cardoso deveria desafiá-lo a suceder Itamar Franco nas condições em que ele sucedeu e ter conseguido os resultados que o seu governo conseguiu. Em suma: deveria desafiar Lula a ser FHC.
Por ocasião do 80º aniversário, foi organizado um especial com oitenta depoimentos de personalidades da política, da economia, do jornalismo e das artes sobre FHC. Personalidades como George Soros, Bill Clinton, Fernando Gabeira, Kofi Annan, Mario Sabino, Pedro Malan, Miguel Reale Jr., Roberto Civita e Vargas Llosa deram o seu sincero depoimento sobre o ex-presidente.
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| Alain Touraine: o gênio francês é capaz de dar a FHC o seu devido papel. |
Não obstante, é no depoimento do sociólogo francês Alain Touraine que me alongarei. Nas suas exatas palavras: “Fernando Henrique Cardoso, que vencera a trupe numerosa dos radicais da dependência, que levou a cabo com sucesso uma reforma monetária indispensável e garantiu a continuidade das instituições, criou verdadeiramente o novo Brasil no qual Lula fez entrar dezenas de milhões de brasileiros e onde Dilma age no sentido de diminuir as desigualdades. Desde Fernando Henrique Cardoso, o Brasil é o único país que se modernizou ao mesmo tempo política, cultural e economicamente. É nesta escala que se deve medir a obra daquele que, por seu pensamento pessoal, e dando ao seu país uma estabilidade institucional nunca antes conhecida, fez do Brasil um dos Grandes”.
O petismo não tem responsabilidade alguma com a história. Sua ocupação é o sustentáculo falacioso que atribui a Lula — o homem do povo — a salvação deste mesmo povo. Este é o final feliz do conto de fadas petista a que o partido e sua massa de militantes idólatras jamais conseguirão riscar de suas mentes, nem que seja a custa do assassínio dos fatos.
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| Lula e FHC. O sociológo e o sapo. |
Porém, a sociedade brasileira é mais forte do que a ideologia e idolatria petistas criadas em torno de falácias sobre a história pessoal de Lula, as realizações do seu governo e o passado recente do Brasil. Essa máquina "ideologizante" — movida para perpetuar-se no poder — irá ranger e desmoronar na primeira eleição presidencial perdida. De tudo isso não restará pedra sobre pedra.
A disposição histórica dos papéis de FHC e LULA para as conquistas recentes do Brasil não será feita neste mesmo cenário de disputa política e ideológica entre o PSDB e o PT. A história será escrita em um ambiente afastado dessas celeumas e livre de todo o partidarismo. Homens como Getúlio Vargas e Juscelino Kubstchek foram grandes o suficiente para afundar o Brasil nessa mesma disputa sentimental e de toda a paixão envolvida restam apenas linhas escritas no papel. Este será o destino de Fernando Henrique Cardoso: ser redimido pela história.







