Fui ao Festival de Inverno de Pedro II. Como o festival é conhecido pela música de qualidade, fiquei inspirado para escrever um pouco do pouco que sei sobre música.
Minha relação com a música começou com a experiência do rock. Aos poucos migrei do rock para outros gêneros. Como Cazuza, fui para a MPB. Da MPB progredi para a música clássica, para o jazz e para o blues. Até hoje esses gêneros são os pilares do meu templo musical.
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Com a passar do tempo meu ouvido se tornou um verdadeiro pandemônio. Com os recursos que a internet disponibiliza ficou fácil garimpar qualquer raridade. Sou da nova geração e mesmo assim ainda lembro a dificuldade com que se conseguia achar CDs em lojas especializadas ou emprestado com os amigos.
A título de exemplo, é graças a internet que descobri alguns artistas africanos. Esses africanos são excelentes na percussão e no saxofone. Recomendo a todos que escutem um pouco de afrobeat, uma batida meio pro lado do jazz, das músicas de raízes tribais africanas e do funk. Manu Dibango (um saxofonista do Camarões) é o meu preferido no gênero. 
o samba. Na África, casa dos negros, a criatividade não fica atrás. E Atualmente é impossível rejeitar o hip-hop e a soul music americana.
Com os recursos tecnológicos que possuímos a música produzida em qualquer tempo é acessível a qualquer um e graças a facilidade de reprodução posso fazer uma orquestra inteira tocar na minha sala As Quatro Estações de Vivaldi ou Fuel de Metallica. Em meu musical maluco todos podem dançar na chuva.
Houve uma época, motivado pelo estudo dos compositores clássicos, em que pensei que talvez devesse me afastar da realidade por uns tempos e cultivar os valores musicais do passado. Ledo engano. Nada pode ser mais infeliz do que deixar passar a sua própria época, do que deixar de observar como os seus vão adicionando novas páginas na história da arte. Não é inconciliável Wagner e Bach, nem tampouco o rock e a música clássica. A própria música erudita evoluiu graças a quebra de paradigmas.
E o difícil e divertido é conciliar gêneros musicais antagônicos. As misturas e possibilidades com que se pode trabalhar assustam os mais ortodoxos. Só que ortodoxia é o oposto da heterodoxia que se tornou a complexa música do nosso tempo, que é, quem sabe, a música de qualquer tempo. A qualquer música.
O meu começo com o rock não guardou nada de muito especial, é como geralmente acontece aos adolescentes. Meus amigos começaram a fazer bandas e a ouvir os rockeiros e logo todos estávamos vivenciando o rock como estilo de vida. Como a mãe do Cazuza disse em uma entrevista: "queria que fosse apenas o rock, mas o rock não existe sem o sexo e as drogas". Na minha vida não foi diferente e o meu corpo guarda as seqüelas do que esse trio é capaz de fazer.
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Muitos grandes nomes da música brasileira dos anos sessenta em diante surgiram enquanto o rock explodia ao redor do mundo. Apesar de distantes dos instrumentos elétricos e do som pesado, os nacionais sempre tiveram semelhança, ao menos no espírito, com os rockeiros americanos e europeus. O ambiente libertino, de contracultura, atraiu a mim com um fascínio tão grande quanto fizeram os rockeiros. Ouvir Elis Regina tocar Aldir Blanc e João Bosco é uma memória muito viva do meu passado e um hábito vivo ainda no meu presente.
A música que embala nossas vidas é como a trilha sonora dos filmes, ela reflete nossos sentimentos e lhes agrega carga dramática. Assim, ela é importantíssima e demonstra a forma como percebemos o mundo. Como nos musicais, as letras e as melodias são atos que vão descortinando os acontecimentos da nossa vida.
Ouvir música de qualidade tem valor inestimável. Dançar ao compasso da má música vulgariza nosso espiríto e diminui a complexidade dos nossos sentimentos. A música de qualidade é como um aroma complexo feito da nota de diversos outros aromas que vai mudando ao longo do tempo conforme envelhece, a música simples é como um aroma único, repetitivo, entediante, que não muda com o tempo nem se agrega complexidade. Gosto se discute sim, o importante, porém, é saber que gosto se desenvolve e se aprende. Como uma criança mal educada só come doces, o espírito simples só ouve a má música porque nunca foi guiado por um adulto a testar o gosto dos outros sabores e a aproveitar a variedade dos temperos.
Pois eh! Salve a boa música!



Um comentário:
"Da MPB progredi para a música clássica, para o jazz e para o blues. "
é realmente um progresso?
dependendo do q se tem por MÚSICA POPULAR BRASILEIRA
populares como Garoto e Heraldo do Monte com seus improvisos não deixam a desejar, no campo da música instrumental, se comparados aos clássicos(principalmente europeus). a música de villa-lobos, por exemplo, tem certa influência da música popular e principalmente da música regional (do sertão) vistas com desdém por boa parte das pessoas que se afirmam com bom gosto musical.
a questão não é educar o gosto, mas sim aguçar a percepção (quanto a estética melódica)
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