segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O curso de filosofia


O nome do blog ainda é filosófico, mas um marco na minha vida faz-se agora quando abandono o curso de filosofia da UFPI, que sonhei em fazer, e continuo somente com o de direito.

O meu primeiro contato com a filosofia foi com um livro didático do ensino médio, depois vieram outros livros, O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder, os romances de Sartre, as principais obras de Nietzsche, os textos teóricos dos principais filósofos. políticos. Minhas paixões de adolescente foram vivenciadas lado a lado com a filosofia, meus amigos realçavam isso se deixando influenciar pela mesma volição de desejo e de literatura. A atitude do filósofo de Rembrandt, contudo, faltou em mim: contemplativo, pensativo, submerso, estático, também famosa em Sócrates que teria ficado por horas filosofando às vésperas de uma batalha. Eu gostava era de comunicar a leitura com minhas experiências epicuristas. Tudo era justificativa para uma experiência mais intensa dos sentimentos apreendidos nos romances.

Preparei-me toda uma vida para estudar filosofia e agora me vejo obrigado a adiar mais uma vez porque não acho que seja possível estudar dois cursos e ter condições de ser competitivo em uma área como a de direito em que é exigido muito estudo sistemático, cansativo e uma memória de elefante, principalmente agora com a concorrência alta pela abertura cada vez maior de faculdades. Tenho dúvidas sérias quando me pergunto se sou realmente capaz de destacar-me dos outros, como sempre sonhava, em uma vida acadêmica exemplar. O curso de Direito em que fui enfiado contra a minha vontade aos 19 anos agora já está em metade do seu caminho e nunca fiz nada mais do que ser um aluno regular. As horas de estudo necessárias para um destaque maior ainda me produzem tédio e enfado, quando não me escapa a concentração por qualquer motivo. Atualmente abandonei o sex, drugs and rock, mas a loucura da dedicação compulsiva e incomum aos estudos não veio como conseqüência natural. Já estou buscando o meu lugar na base, acomodando-me a ele, esquecendo qualquer vontade de atingir grandes metas, lançando esse desejo e essa vontade na fogueira de delírios adolescentes que pouco a pouco deixo para trás.

Minha identidade com o Direito é pequena, comparada à identidade que tenho com a filosofia, o contraste a deixa ainda menor. Certamente a Ciência do Direito é uma ciência imensa, uma das mais marcantes características da evolução de nossas sociedades é o nosso Direito. Mas o que se exige dos estudantes de direito e de seus aplicadores é capacidade técnica de levar à diante um complexo grupo de ritos, procedimentos, formalidades e finalidades que caracteriza o ordenamento jurídico e a aplicação efetiva do Direito. Mesmo com os avanços pós-positivistas, uma reabilitação dos valores, da discricionariedade, a maior dificuldade no Direito continua sendo a simples realização da correta subsunção do fato à norma. As normas, estas o aplicador deve conhecer e a única maneira é promovendo a leitura exaustiva das leis. Há pouco o que se fazer a não ser se tornar um excelente burocrata. A questão é: de que serve a alguém conhecer as leis? O conhecimento da Lei aumenta, ele completa? Isso eu não sei, mas quanto ao conhecimento de filosofia, isso eu sei dizer com certeza: filosofar é aquilo que se deve fazer imediatamente após se perceber enquanto vivo.




(continua)


3 comentários:

Herr Schwartz disse...

E acho que essa loucura da dedicação compulsiva e incomum aos estudos não virá como consequência natural.... não abandone seus sonhos!

Patricia disse...

Olá! Gostei bastante do seu blog...Quanto ao texto em que você fala de filosofia, achei bem parecido (o conteúdo) com minha atual situação. Terminei Direito na UESPI, mas continuo tentando terminar jornalismo na UFPI...Sei bem como é querer fazer algo e não ter o tempo necessário...No início do curso aproximei-me bastante da Filosofia...Li muitas obras do Nietzsche (que ainda hoje é meu filósofo predileto)...Cheuguei até a pensar que era "nietzscheana", mas vi que ainda estava (e estou) bem longe disso...Não sei, ao certo, se é bom ou ruim, mas prefiro trazer para mim o que de bom encontrei nos escritos desse alemão...Mas assim como o jornalismo, que hoje chamo de "sonho", sempre tive vontade de fazer outro (s) curso (s) e filosofia é uma das opções...Enfim...Costumo dizer que tenho objetivos e sonhos. O curso de Direito foi um objetivo alcançado. Jornalismo é algo que, talvez, eu não exerça, mas continua sendo uma idéia que ainda me faz bem...E assim as coisas vão indo....
Ps: urioso: via sua foto no facebook como amigo de uma amiga e pensei: acho que já vi esse garoto...Lembrei que fizemos a prova da OAB - 2011.2 (as duas fases) na mesma sala...

Patricia disse...

Olá! Gostei bastante do seu blog...Quanto ao texto em que você fala de filosofia, achei bem parecido (o conteúdo) com minha atual situação. Terminei Direito na UESPI, mas continuo tentando terminar jornalismo na UFPI...Sei bem como é querer fazer algo e não ter o tempo necessário...No início do curso aproximei-me bastante da Filosofia...Li muitas obras do Nietzsche (que ainda hoje é meu filósofo predileto)...Cheuguei até a pensar que era "nietzscheana", mas vi que ainda estava (e estou) bem longe disso...Não sei, ao certo, se é bom ou ruim, mas prefiro trazer para mim o que de bom encontrei nos escritos desse alemão...Mas assim como o jornalismo, que hoje chamo de "sonho", sempre tive vontade de fazer outro (s) curso (s) e filosofia é uma das opções...Enfim...Costumo dizer que tenho objetivos e sonhos. O curso de Direito foi um objetivo alcançado. Jornalismo é algo que, talvez, eu não exerça, mas continua sendo uma idéia que ainda me faz bem...E assim as coisas vão indo....
Ps: urioso: via sua foto no facebook como amigo de uma amiga e pensei: acho que já vi esse garoto...Lembrei que fizemos a prova da OAB - 2011.2 (as duas fases) na mesma sala...