sexta-feira, 8 de abril de 2011

Escola Tasso da Silveira: Massacre no Realengo.

MATEUS MORAES, ESTUDANTE DA
7ª SÉRIE DO COLÉGIO TASSO DA SILVEIRA
Pela primeira vez em mais de dois anos de blog estou publicando um texto que não é de minha autoria. Trata-se do depoimento de Mateus Moraes dado à Folha de S. Paulo. Mateus é estudante da 7ª série e vivenciou o ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira no Rio de Janeiro, Bairro do Realengo. Nenhum texto escrito por mim seria capaz de se aproximar da mensagem que este texto transmite. A única coisa que podemos fazer é dividir a dor dessas famílias o máximo que pudermos. 
         

            "Já tive alguns pesadelos na vida, mas nenhum se compara com o que vi hoje. A aula de português estava começando quando ouvimos um tiro dentro da escola.
 
            Naquele momento, todos entraram em pânico. A professora deixou a sala para ver o que acontecia e não deu para entender mais nada.
            
            Só ouvíamos o barulho dos tiros cada vez mais alto. Foi uma correria. Todos gritavam e tentavam se esconder embaixo das mesas. 
            
          Logo em seguida, um rapaz de camisa verde e calça preta com um revólver em cada mão entrou na sala. Não tive muita reação. A única coisa que fiz foi levantar da minha cadeira, que fica na primeira fileira da sala. 
Adolescente presta homenagem acendando velas
no muro da escola Tasso da Silveira. O respeito que o assassino
mostrou não ter na vida humana deve ser mil vezes reafirmado por cada um de nós.
          
         Ele ficou menos de meio metro de distância da minha mesa e começou a atirar. Foi uma covardia. Ele chegava perto dos meus amigos que estavam no chão, demorava um pouco e dava tiro na cabeça, no tórax. 
        Vi pelo menos uns sete amigos morrerem. Não sei como não morri. Fiquei o tempo inteiro em pé e orando. Cada vez que ele parava de atirar para recarregar as armas, ele gritava que não ia me matar. O rapaz berrava: "Fica tranquilo, gordinho. Já disse que não vou te matar". Ele falava isso, carregava o revólver e ia pra cima dos outros. 
        
         Teve uma hora que ele deixou a sala e continuou atirando do lado de fora.
     
         Minutos depois, o barulho acabou. Vi vários colegas feridos, outros mortos, muito sangue nas paredes da sala. Não sabia o que fazer nem como estava vivo. Foi Deus que me ajudou. 
         
         Logo em seguida, um policial deu um grito. Ele berrava para os alunos que estivessem vivos deixarem a escola. Saí correndo. Só fui parar lá em casa. Deixei até o material para trás. Chorei o dia inteiro, mas estou calmo agora. 
        
         Não vou ter mais coragem de estudar nessa escola. As lembranças são muito fortes".