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| OBAMA na Cidade de Deus (City of God) |
Uma diferença de fácil percepção em relação às visitas diplomáticas do Presidente norte-americano Barack Obama em relação às do seu predecessor George W. Bush é a maneira como a população dos países visitados recebe o novo Presidente. No Brasil o Presidente foi muito bem recebido apesar de pequenos protestos como o organizado pelo PSTU — com direito a ato “pseudo-terrorista” de um dos manifestantes que lançou um coquetel molotov no consulado norte-americano no Rio. Na Cidade de Deus, por exemplo, crianças impressionaram Obama com demonstrações de capoeira. Com seu português improvisado foi aplaudido várias vezes no discurso do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Essa alteração da percepção da população mundial sobre os Estados Unidos será um dos maiores legados de Obama para o seu país. Os EUA sofreram décadas de fortes críticas através de um pensamento antiamericano que de tão intenso já vinha gerando animosidade contra os próprios cidadãos do país, muitas vezes inocentes. Na América do Sul esse pensamento geralmente precipitado e infantil foi incentivado pelo que a intelligentsia cuidou de chamar de “perfeito idiota latino-americano”, expressão atribuída a Vargas Llosa vencedor do Nobel de Literatura e ex-presidente peruano. A perfeito-idiotice-latino-americana tem exponenciais em todos os países, mas é atualmente liderada pelos presidentes Hugo Chávez e Evo Morales (Venezuela e Bolívia) antigos correligionários do governo Lula.
O mundo mudou a percepção sobre os EUA não somente porque Obama é negro e tem uma ideologia mais sintonizada com os movimentos que dominaram a produção intelectual em todos os países (movimentos ecológicos, antiglobalização, pacifistas, pró-países pobres, etc.), mas porque Obama de fato implementou uma política externa que recepcionou as críticas que o governo norte-americano sofreu. Não que Obama pratique o bem por pura convicção, mas porque os EUA perceberam que não podem mais impor ao mundo sem diálogo e cooperação — até mesmo convencimento — as suas vontades. Os EUA optam agora pelo diálogo porque o unilateralismo falhou.
Essa mudança se deu não somente devido à despolarização do poder nas relações internacionais que minou a capacidade norte-america de se impor ao mundo e o custo da política unilateral ao contribuinte (guerras caras), mas porque o país finalmente descobriu que a verdadeira liderança não é aquela que impõe sua vontade por meio da força, mas sim aquela que impõe a sua vontade por meio do convencimento. O verdadeiro líder é aquele que convence que está correto, porque liderados nessa condição são aqueles que verdadeiramente agem conforme a sua vontade. É interessante que o país que academicamente desenvolveu a mais complexa teoria contemporânea do poder tenha só agora percebido essa realidade incontestável.
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| Obama discursando para convidados no Theatro Municipal no Rio de Janeiro |
O discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, marcado por uma simpatia exemplar e muito carisma, confirma as minhas teses. Um líder carismático é justamente aquilo que os EUA precisam nessa nova política internacional. O Presidente norte-americano idealizado por Obama é também, de certa maneira, escolhido por todos os cidadãos do mundo e festejado também por eles. Obama afirmou “quero falar diretamente ao povo brasileiro, compartilhar idéias, valores e esperanças que temos em comum”.
Fernando Henrique Cardoso em entrevista concedida recentemente à Folha de São Paulo disse “não dá para ser mais aquele isolacionismo imperial, do ‘eu quero’ e acontece”, mais na frente, na mesma entrevista continuou “os EUA não têm mais como impor nada para o mundo”. Certíssimas as afirmações do ex-presidente. Agora é saber como o Brasil irá travar suas relações com essa nova potência, cada vez mais adepta do diálogo e do convencimento.



