terça-feira, 6 de julho de 2010

Os mitos das eleições 2010


A corrida eleitoral para presidente está iniciada. É hora de começarmos a refletir sobre o nosso voto. Uma boa maneira de iniciar essa reflexão é eliminando alguns preconceitos, sofismas, que andam sendo ditos por aí nas rodas de discussão de política. Falarei aqui de alguns mitos sobre o PSDB e o governo Fernando Henrique Cardoso.

O primeiro dos mitos é o de que o Brasil está em uma fase áurea e que correria riscos caso sofresse uma transição para um governo do PSDB. Ledo engano. A política econômica estará segura mesmo porque os seus grandes idealizadores saíram do grupo tucano. Quando Lula assumiu o governo o fez sobre forte pressão internacional que elevou o dólar ao patamar de R$ 4,00. Uma das primeiras medidas de Lula foi indicar um nome tucano para a presidência do Banco Central – Henrique Meireles. A indicação acalmou os ânimos internacionais e provou que o PT não estava no governo para cometer burrices.

A queda do câmbio, do risco Brasil e das taxas de juros ocorreram graças a manutenção de uma política econômica inaugurada no governo FHC e demonizada pela oposição da época. O governo Lula manteve juros altos e forte superávit primário enquanto sentiu que os dois eram necessários ao Brasil. Pagar a conta do FMI, baixar os juros, feito por Lula, só foi possível graças a uma política econômica desenvolvida lentamente nos mandatos tucanos.

Outro mito é acreditar que os programas sociais do governo podem diminuir a expansão. O atual programa Bolsa Família é semelhante aos criados por FHC, a Bolsa Escola e a Bolsa Alimentação. Durante o seu governo o gasto em programas de assistência social duplicou de R$15 bilhões para R$ 30 bilhões de reais Houve evolução na saúde trazida pelos remédios genéricos e pelo nosso programa de combate à AIDS reconhecido mundialmente.

É também imaginado por alguns que o governo FHC vendeu o país. As privatizações, contudo, foram benéficas aos brasileiros, trazendo modernidade para a área de telecomunicações e reativando a Vale que se encontrava sucateada. O estado deixou de se ocupar de atividades que não são da sua alçada para que a iniciativa privada realize com a eficiência necessária.

O governo FHC enfrentou sérias crises mundiais (crise do México, crise asiática, crise russa e argentina) além de um caos energético causado pelo apagão. Lula enfrentou uma das maiores crises mundiais só que com a sorte de ter economizado por tempo suficiente para ajustar as contas. No saldo total, o cenário internacional termina por ser mais confortável nos últimos oito anos do que na era FHC.

Combatidos alguns desses mitos, está o eleitor mais preparado para saber em quem irá votar nessas eleições. Essa é a intenção do artigo. O importante, por hora, é entender que os créditos pelo período de bonança precisam ser justamente divididos.

domingo, 4 de julho de 2010

Uma pausa para a MÙSICA


Fui ao Festival de Inverno de Pedro II. Como o festival é conhecido pela música de qualidade, fiquei inspirado para escrever um pouco do pouco que sei sobre música.

Minha relação com a música começou com a experiência do rock. Aos poucos migrei do rock para outros gêneros. Como Cazuza, fui para a MPB. Da MPB progredi para a música clássica, para o jazz e para o blues. Até hoje esses gêneros são os pilares do meu templo musical.

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Com a passar do tempo meu ouvido se tornou um verdadeiro pandemônio. Com os recursos que a internet disponibiliza ficou fácil garimpar qualquer raridade. Sou da nova geração e mesmo assim ainda lembro a dificuldade com que se conseguia achar CDs em lojas especializadas ou emprestado com os amigos.


A título de exemplo, é graças a internet que descobri alguns artistas africanos. Esses africanos são excelentes na percussão e no saxofone. Recomendo a todos que escutem um pouco de afrobeat, uma batida meio pro lado do jazz, das músicas de raízes tribais africanas e do funk. Manu Dibango (um saxofonista do Camarões) é o meu preferido no gênero. O grande astro do gênero, contudo, é Fela Kuti um instrumentalista nigeriano que fez sucesso nos anos 70 com seu grupo AFRICA 70. Os negros estão envolvidos nas melhores músicas produzidas no século XX, no EUA eles estão relacionados com o jazz e o blues, no Brasil, com

o samba. Na África, casa dos negros, a criatividade não fica atrás. E Atualmente é impossível rejeitar o hip-hop e a soul music americana.


Com os recursos tecnológicos que possuímos a música produzida em qualquer tempo é acessível a qualquer um e graças a facilidade de reprodução posso fazer uma orquestra inteira tocar na minha sala As Quatro Estações de Vivaldi ou Fuel de Metallica. Em meu musical maluco todos podem dançar na chuva.


Houve uma época, motivado pelo estudo dos compositores clássicos, em que pensei que talvez devesse me afastar da realidade por uns tempos e cultivar os valores musicais do passado. Ledo engano. Nada pode ser mais infeliz do que deixar passar a sua própria época, do que deixar de observar como os seus vão adicionando novas páginas na história da arte. Não é inconciliável Wagner e Bach, nem tampouco o rock e a música clássica. A própria música erudita evoluiu graças a quebra de paradigmas.


E o difícil e divertido é conciliar gêneros musicais antagônicos. As misturas e possibilidades com que se pode trabalhar assustam os mais ortodoxos. Só que ortodoxia é o oposto da heterodoxia que se tornou a complexa música do nosso tempo, que é, quem sabe, a música de qualquer tempo. A qualquer música.


O meu começo com o rock não guardou nada de muito especial, é como geralmente acontece aos adolescentes. Meus amigos começaram a fazer bandas e a ouvir os rockeiros e logo todos estávamos vivenciando o rock como estilo de vida. Como a mãe do Cazuza disse em uma entrevista: "queria que fosse apenas o rock, mas o rock não existe sem o sexo e as drogas". Na minha vida não foi diferente e o meu corpo guarda as seqüelas do que esse trio é capaz de fazer.

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Muitos grandes nomes da música brasileira dos anos sessenta em diante surgiram enquanto o rock explodia ao redor do mundo. Apesar de distantes dos instrumentos elétricos e do som pesado, os nacionais sempre tiveram semelhança, ao menos no espírito, com os rockeiros americanos e europeus. O ambiente libertino, de contracultura, atraiu a mim com um fascínio tão grande quanto fizeram os rockeiros. Ouvir Elis Regina tocar Aldir Blanc e João Bosco é uma memória muito viva do meu passado e um hábito vivo ainda no meu presente.


A música que embala nossas vidas é como a trilha sonora dos filmes, ela reflete nossos sentimentos e lhes agrega carga dramática. Assim, ela é importantíssima e demonstra a forma como percebemos o mundo. Como nos musicais, as letras e as melodias são atos que vão descortinando os acontecimentos da nossa vida.


Ouvir música de qualidade tem valor inestimável. Dançar ao compasso da má música vulgariza nosso espiríto e diminui a complexidade dos nossos sentimentos. A música de qualidade é como um aroma complexo feito da nota de diversos outros aromas que vai mudando ao longo do tempo conforme envelhece, a música simples é como um aroma único, repetitivo, entediante, que não muda com o tempo nem se agrega complexidade. Gosto se discute sim, o importante, porém, é saber que gosto se desenvolve e se aprende. Como uma criança mal educada só come doces, o espírito simples só ouve a má música porque nunca foi guiado por um adulto a testar o gosto dos outros sabores e a aproveitar a variedade dos temperos.

Pois eh! Salve a boa música!