segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O FLAMENGO EM QUATRO PERSONAGENS. (publicado)


A história que levou o Flamengo à conquista do seu hexacampeonato é uma dessas histórias fascinantes que só acredita quem tem costume com o futebol. O time iniciou o ano com uma campanha fraca e com a vitória de um carioca improvável para depois entrar no brasileirão tropeçando, com derrotas injustificáveis. Tudo indicava um caminho morno pela frente. Contudo, o time se acertou, ficou invicto por várias rodadas e ultrapassou os lideres no final da corrida sendo hexacampeão. A resposta para isso são quatro personagens.


O primeiro deles é Adriano, um rapaz deprimido que abandonou o dinheiro e a Europa para jogar no Brasil no clube do coração. Tudo muito bonito, mas daí a chegar ao país, entrar em forma, vencer a depressão e jogar futebol seria como uma vitória. Acabou sendo.

O segundo personagem é Petkovic, conhecido na Sérvia como Rambo. Esse voltou para o Flamengo em um acordo para cobrir dívidas. O então técnico do time, Cuca, recusava-se a escalar o sérvio discutindo com o presidente e ameaçando sair. Colocava o Rambo pra jogar no finalzinho. Petkovic virou a mesa, chegou de fininho, e passou a ser peça fundamental do time com gols épicos de bola parada. Agora é o deus do olímpico.

O terceiro personagem da história: Andrade. Monstro do futebol brasileiro e monumento da torcida rubro-negra, é uma espécie de ligação entre o passado glorioso do clube e o presente. Membro interino dos bastidores, Andrade assumiu a função de técnico porque não havia técnicos no mercado e terminou ganhando espaço com seus resultados. Agora a torcida tem duas dívidas com o Andrade, o jogador e o técnico. Pagar não vai nunca.

O quarto é tricampeão carioca, campeão da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Escapou de uma amputação em uma lesão rara, voltou a jogar futebol e fez o gol do título em uma jogada ensaiada. É o que mais me emociona: Ronaldo Angelim.

Fui um flamenguista pessimista e analisei mal as coisas ao longo de todo este ano. Acreditei que Adriano no máximo dava bom exemplo de “pobre menino rico” com essa choradeira toda e que Petkovic estava velho e visivelmente fora de forma e que Andrade, com todo respeito, mesmo criado nos bastidores, não ia saber levar o time como técnico. E o pior, e sem perdão: Angelim não ia voltar a jogar futebol.

Fiz tudo errado, escalei outro time para jogar. Dei cedo o título para o Palmeiras. Eu penso com a cabeça e não com o coração. E futebol não tem sentido, se tem sentido é um sexto. Esse sentido, infelizmente, eu tenho pessimamente desenvolvido.