"Eu teria sido um aluno brilhante de filosofia, sociologia ou qualquer outro curso em que as exigências fossem as de um aluno com incomum capacidade crítica e destreza em se mover em meio aos campos teóricos de uma ciência. Sou forçado a ver com inveja as pessoas que tiveram a oportunidade que eu não tive ou a coragem que não assumi. Como o Eduardo que abandonou seu curso de direito na UESPI para apostar nas próprias escolhas, porque confiava em sua capacidade."
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"Isso é um desabafo. Não é necessário que você leia esta carta até o fim. Eu já abandonei as formalidades que textos dessa natureza exigem, quero falar com emoção, pois é o que sinto agora, angústia. Serei tão direto quanto O Apanhador no Campo de Centeio"
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"O curso de direito foi feito para qualquer aluno que tenha capacidade de recordar por meio de exaustivo estudo o que é textualmente exposto pelas leis. Existe em minha sala exemplos de alunos com essa capacidade, proveniente, como já pude perceber, da ambição profissional e da identidade com o curso. Eu não tenho identidade com o curso e não sinto nenhuma ambição profissional, o que me coloca em situação de larga desvantagem".
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"Eu deveria ter com o direito ao menos a esperança de atingir autonomia financeira, pois se ele não é um fim em si mesmo, poderia ser um meio para algo. Acontece que por detrás da realidade que ele significa, mora morto o único sonho que tive nesta vida: o de ser um intelectual."
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"Sou obrigado a continuar com o curso porque não me resta outra alternativa. Na minha idade não ter autonomia financeira começa a ser algo muito irritante. Sinto como se ele fosse uma armadilha a que terminei caindo. Não refiz a matricula de filosofia na federal, era impossível estudar para os dois ao mesmo tempo e as minhas notas no curso de direito diminuíam. Negam-se a me sustentar nesta cidade para estudar exclusivamente filosofia. Sou péssimo estudante de direito. Há algum lugar onde o patinho feio seja cisne? Estou deslocado."
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"Será que eu consigo dinheiro com essa droga?"
"O Direito Penal é uma forma de manter viva a consciência de dinossauros ocupados em fazer o que mais detesto na vida: falso-moralismo."
"Nunca foi ciência, parece-me técnica, ou mesmo puro know-how, mero conhecimento procedimental, savoir-faire."

